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  • Foto do escritorVinicius Oliveira

Crítica | Raymond & Ray

Até que ponto conhecemos de fato nossos pais?

Divulgação: Apple TV+


“É melhor ir a uma casa onde há luto do que a uma casa em festa, pois a morte é o destino de todos; os vivos devem levar isso a sério!” - Eclesiastes 7.2


Existem certos atores que, uma vez que contracenam juntos pela primeira vez, é inevitável não se perguntar por que nunca vimos antes uma parceria entre ambos. Assistir Ewan McGregor e Ethan Hawke como (meio) irmãos em Raymond and Ray é se ver diante dessa pergunta, já que a química dos dois atores corresponde à alma do filme, que é sempre melhor quando os coloca juntos.


Na história, os irmãos se reúnem após a morte do pai, em cujas mãos sofreram na infância e que agora deixa uma nada ortodoxa lista de desejos para o funeral. Com exceção do nome, quase nada há em comum entre os dois: Raymond (McGregor) é um tipo certinho e afeito a rituais e rotinas, mas já encarou dois divórcios e provavelmente passará pelo terceiro; já Ray (Hawke) é um ex-viciado em heroína que outrora foi um músico de jazz, mas agora vive isolado, embora não tenha perdido seu magnetismo para as mulheres. São homens de meia-idade que carregam consigo muita raiva (explícita no caso de Ray e oculta no caso de Raymond) e questões paternas mal trabalhadas, mas ainda assim há uma cumplicidade e entendimento latentes entre eles desde o início, algo que é bastante fundamentado nas primorosas atuações de McGregor e Hawke – ainda que o roteiro às vezes peque pelo excesso de frisar os traumas que ambos carregam através de diálogos mais expositivos.


Apresentando um relativo equilíbrio entre a comédia e o drama, o filme traz seus momentos de humor através dos pedidos cada vez mais absurdos deixados pelo pai dos protagonistas e suas reações igualmente absurdas. Um dos melhores acertos da história é trazer o desconforto palpável dos irmãos diante dos relatos de outras pessoas que conheciam seu pai e como elas conheceram versões muito diferentes das que ambos tiveram acesso. Mesmo entre eles a percepção é muitas vezes discrepante, embora uma das melhores cenas do filme ilustre como há muita negação envolvida.

Divulgação: Apple TV+


Se o filme encontra força nas atuações de McGregor e Hawke, o mesmo não pode ser dito aos coadjuvantes; afora Maribel Verdú (que interpreta uma ex-amante do pai que cria um vínculo com Raymond), o restante dos personagens acaba sendo subutilizado. É uma pena ver atores como Vondie Curtis-Hall (como o sacerdote que preside o funeral) e Sophie Okonedo (como uma enfermeira do pai dos protagonistas que se aproxima de Ray) receberem menos espaço do que mereceriam, ainda mais porque o roteiro consegue estabelecer bem como esses coadjuvantes orbitam em torno dos protagonistas. Junte a isso um final um tanto anticlimático e tem-se um enfraquecimento da obra, que poderia ter sido melhor sem perder sua simplicidade.


No fim, Raymond and Ray funciona como um veículo para McGregor e Hawke, atores que ostentam trajetórias aclamadas e com diversas similaridades, cada um tendo seus momentos esperados para brilhar. Vê-los finalmente juntos só nos deixa ansiosos por mais da parceria, mas também se espera que elas ocorram em filmes mais memoráveis, visto que aqui temos uma obra moderadamente divertida, dramática e curiosa, mas que não atinge o nível esperado de uma colaboração como esta.


Nota: 3,5/5


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