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  • Foto do escritorVinicius Oliveira

Crítica | Shantaram (1ª temporada)

História interessante e personagens complexos mal aproveitados em execução tediosa

Divulgação: Apple TV+


Há algo de atraente em acompanhar histórias de protagonistas que estão tentando de alguma forma fugir dos seus passados, nem que precisem atravessar o mundo para isso. De 'Casablanca' à recente 'Tokyo Vice', não são raras as obras centradas em expatriados de personalidades complexas e anti-heróicas. 'Shantaram' busca se juntar a esse panteão, adaptando o livro homônimo de Gregory David Roberts e trazendo Charlie Hunnam como seu alter ego, um criminoso australiano que escapa da prisão para refazer sua vida na Índia.


Hunnam é hábil em construir personagens que passam longe de serem mocinhos, mas carregam alguma centelha de bondade dentro de si, como seu sucesso em 'Sons of Anarchy' atestou. Mesmo quando vemos seu Lin Ford escapar da prisão ou os flashbacks que explicam como ele foi parar lá, ainda de forma torcemos por ele. Entretanto, mesmo com as falhas e erros cometidos pelo personagem (e que o humanizam), a narrativa não resiste a colocá-lo como uma espécie de “white savior”, caindo na armadilha dos tropos de exotismo a partir do momento em que Lin se mistura aos marginalizados e o submundo do crime de Mumbai (aqui ainda chamada de Bombaim, já que a série se passa nos anos 80).


Esse apelo ao exotismo e à estereotipação só não é levado mais à frente porque os personagens apresentados, entre indianos e outros expatriados, possuem vida própria e são o grande forte da série. Do fiel escudeiro Prabhu (Shubham Saraf) à misteriosa e atraente Karla (Antonia Desplat), passando pelo carismático Didier (Vincent Perez), o enigmático chefão do crime Abdel Khader Khan (Alexander Siddig) e seu braço direito Abdullah (Fayssal Bazzi), 'Shantaram' povoa seu universo com personagens de moralidade cinzenta e aprofunda as ligações entre eles, mesmo obedecendo a certos clichês, especialmente os dos filmes noir (Karla é a femme fatale, Didier é o homem sem lealdade definida que conduz um café que parece a versão bombaíta do Rick’s Café de 'Casablanca', etc.).

Divulgação: Apple TV+


É uma pena, portanto, que personagens tão cativantes sejam mal aproveitados numa narrativa tão lenta que beira o tedioso. Ao fim dos 12 episódios, não há justificativa razoável que explique a necessidade de se alongar tanto a temporada, e o que se vê é um esvaziamento da sua proposta. Como exemplo, tem-se as constantes tentativas de Lin de fugir de Bombaim, que depois de um tempo perdem qualquer nuance dramática para se tornarem apenas risíveis, assim como a sua desnecessária narração em off e os diálogos (nada sutis) sobre livre arbítrio e destino. É uma falsa profundidade conferida à série, e que não ajudam a evitar que nosso interesse nesses personagens e arcos diminua episódio após episódio.


Ao menos a série consegue reverter seus sérios problemas de ritmo com uma reta final onde todos os núcleos são eficazmente convergidos para uma crescente narrativa e um clímax (relativamente) satisfatório. Infelizmente, o que poderia ser um final fechado e decente acaba se convertendo nos últimos minutos em desnecessários ganchos e pontas soltas - e que nunca serão amarradas, já que o anúncio de cancelamento veio junto com o último episódio.


Não posso dizer que não entendo. Há uma frustração particular em ver obras de grande potencial e com certos méritos se perder por causa de escolhas narrativas que poderiam ter sido evitadas ou contornadas, e esse é o caso de 'Shantaram', que se encerra deixando um sabor tépido em nossa boca.


Nota: 2,5/5

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