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Foto do escritorVinicius Oliveira

Crítica | Sharper - Uma Vida De Trapaças

As muitas camadas de um golpe

Foto: Divulgação


Filmes sobre golpistas muitas vezes dependem do quão bem você é capaz de enganar seu público junto com os personagens a quem esses golpistas querem trapacear. Por isso, não raramente são obras calcadas em plot twists pelos quais vivem e morrem, visto que a aceitação desses plot twists por parte do público é que determinam se a obra será bem-sucedida ou não.


Dito isso, Sharper - Uma Vida De Trapaças é uma produção inicialmente convincente pela estrutura que adota, sendo dividido em blocos que trabalham o ponto de vista de cada um dos quatro personagens principais e a intrincada teia de intrigas, golpes e traições que os unem. É até difícil detalhar como esses protagonistas - a saber: Tom (Justice Smith), Sandra (Brianna Middleton), Max (Sebastian Stan) e Madeline (Juliane Moore) - se relacionam, já que parte do charme do filme em seus dois primeiros atos é justamente entender as gradativas conexões que surgem entre eles, conforme cada bloco dedicado ao ponto de vista de um deles expõe novas informações necessárias à compreensão da trama. Para isso o filme adota uma estrutura ligeiramente não-linear que visa se pagar nos quarenta minutos finais, conforme as decisões tomadas por eles convergem para o clímax.


Esse quarteto principal - mais John Lightgow, que vive um bilionário - tem cada um o seu momento de brilhar. Smith confere a ingenuidade e vulnerabilidade necessárias para seu personagem, que o colocam na base da pirâmide desse esquema, enquanto Middleton interpreta a personagem mais multifacetada e imprevisível. Mas são Stan e Moore quem brilham mais: ele parece cada vez mais confortável em papéis vilanescos e ela, é claro, rouba a cena como sempre. Os enquadramentos e usos de cores e sombras reforçam a ambiguidade dos personagens, enquanto a montagem permite que cada bloco flua naturalmente durante a primeira metade da obra.

Foto: Divulgação


Infelizmente, para um filme que pretende funcionar como uma boneca russa, Sharper - Uma Vida De Trapaças não demora a esgotar seus recursos, e isso fica ainda mais evidente a partir do bloco de Madeline (a despeito da ótima atuação de Moore). O ato final soa extremamente corrido conforme tenta resolver o emaranhado deixado pelos anteriores, e pior: tudo parece extremamente previsível, de modo que a grande reviravolta final pode ser telegrafada há quilômetros. Para um filme desse gênero, isso é imperdoável.


No fim, Sharper - Uma Vida De Trapaças se beneficia do seu elenco, do ritmo cadenciado dos seus dois primeiros terços e da estrutura que nos permite aprender mais a cada personagem trazido como ponto de vista. Mas o resultado final, apesar da premissa interessante, é morno e previsível, de modo que não há muito aqui que possa se distinguir do que já vimos em tantas outras obras sobre golpistas.


Nota: 3/5

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