Uma temporada incerta entre ser o fim ou o recomeço da série
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Ao assistir a nova leva de episódios de Sombra e Ossos, é difícil não sentir um gosto amargo de que a série está para ser cancelada. Essa percepção parece compartilhada pela própria equipe da série, que nesta nova temporada resolveu tentar entregar um final ao arco que foi introduzido na primeira ao mesmo tempo em que deixava ganchos não apenas para uma (possível) terceira temporada, como até mesmo para spin-offs situados nesse universo. Infelizmente, o resultado é uma estranha colcha de retalhos que não precisava ser assim.
Não li os livros originais no qual Sombra e Ossos se baseia (apenas a duologia Six of Crows), mas mesmo um não-leitor pode perceber como a temporada insere tantos acontecimentos e adota uma narrativa tão corrida — e mal desenvolvida em alguns pontos — que o que vimos aqui poderia facilmente render pelo menos umas duas temporadas. O primeiro episódio é um exemplo disso, já que temos os protagonistas Alina (Jessie Mei Li) e Mal (Archie Renaux) fugindo do reino de Ravka após enfrentarem o vilão Kirigan/Darkling (Ben Barnes), que não apenas revela estar vivo, como também inicia uma jornada para libertar os outros Grishas em meio ao conflito que ele mesmo causou; isso sem contar os Corvos retornando para a cidade de Ketterdam e se vendo envoltos em uma emboscada, ao passo que temos ainda a introdução de novos e importantes personagens.
Como se não bastasse, a escolha entre dividir o núcleo de Ravka e de Ketterdam (este incorporando diversos elementos de Six of Crows) só reforça a impressão de que estamos vendo duas séries diferentes. Mesmo que eles convirjam ao final da temporada, falta a fluidez e a organicidade com a qual a primeira temporada apresentou ao conectar os dois núcleos — um dos seus maiores acertos, já que ela também possuía seus nítidos problemas. Ainda que a presença dos Corvos aqui tome várias liberdades em relação às obras originais (já que eles não aparecem nos livros de Sombra e Ossos), a série ainda conseguia em seu primeiro ano justificar de maneira mais coesa suas presenças nesse ponto da história e suas interações com Alina, Mal e outros personagens de Ravka. Nesta temporada, a natureza isolada das suas tramas por pelo menos parte da temporada só reforça a impressão de que eles deveriam estrear a própria série.
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Mas essa natureza repartida desse segundo ano nem de longe seria um problema não fosse um fato já observado na primeira temporada e que aqui é ainda mais gritante: os Corvos são personagens muitíssimos mais interessantes e carismáticos do que praticamente todo o núcleo de Ravka. Em destaque, a atuação de Freddy Carter como Kaz Brekker consegue transformar um personagem que às vezes era exageradamente sombrio nos livros em um protagonista repleto de nuances e de uma bem-vinda humanidade mesmo nos seus momentos mais calculistas. Do lado ravkaviano da história, as atuações de Jessie Mei Li e Archie Renaux nunca conseguem fazer jus ao status de protagonistas que possuem, sendo facilmente engolidas por Ben Barnes (que entrega um vilão fantástico e complexo, ainda que lamentavelmente subutilizado) e o recém-chegado Patrick Gibson, cujo Stormhund/Nikolai é a melhor adição da temporada.
Ao final, a sensação é que Sombra e Ossos esgotou prematuramente o que parecia ser sua narrativa principal, deixando diversas perguntas sobre o que será seu futuro — e valendo-se de grande parte do último episódio nessa preparação de terreno, o que cria uma sensação anticlimática difícil de ignorar. Talvez a série pretenda ainda fazer uma adaptação mais direta de Six of Crows e também adaptar os eventos da duologia King of Scars, ou talvez adaptar as obras dos Corvos num spin-off. Mas ela sobreviveria à saída de seus personagens mais carismáticos? Em todo caso, talvez todas estas perguntas soem irrelevantes diante do provável cancelamento da série. Entre a possibilidade de um fim definitivo e de um recomeço a partir de uma próxima temporada, Sombra e Ossos entrega uma colcha de retalhos que possui seus méritos, mas não deixa de desapontar diante de tudo que a série tentou comprimir e entregar em apenas oito episódios, criando uma narrativa desarticulada, corrida e aquém do seu potencial.
Nota: 2,5/5
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