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Foto do escritorÁvila Oliveira

Crítica | Sutura (1ª temporada)

Série médica associa suspense com viés social e não deixa pontas sem nó

Foto: Divulgação/ Prime Video


De um lado, Ícaro (Humberto Morais) um talentoso jovem com um forte senso de justiça que vê seus sonhos ameaçados. Do outro, Dra. Mancini (Cláudia Abreu) uma cirurgiã brilhante com doses explosivas de cinismo, tentando voltar a operar após um trauma. Unidos por uma inesperada e perigosa situação, acabam formando uma dupla médica imbatível.


Não sei exatamente onde e quando retornou, mas o fato é que estamos presenciando um renascimento de séries médicas no cenário internacional, e uma popularização a nível de produção nacional que até 2015 não se tinha como tema prioritário de narrativa. Chicago Hope, ER - Plantão Médico e o novelão General Hospital foram alguns dos principais responsáveis pela difusão do gênero televisivo a partir da década de 90, e o Brasil mesmo, na época, ensaiou sua medicina filmada em episódios no seriado Mulher. Na última década, no entanto, o gênero que parecia ter retornado para seu nicho de origem ganhou as mais diferentes roupagens mundo à fora, se moldando a realidades e contextos diferentes.


Sutura é um exemplo onde essa adaptação acontece de maneira orgânica e não-forçada. Mesmo com um alicerce narrativo preconcebido e bem conhecido – o residente médico que se destaca entre os demais, mas que vem de origem humilde e isso limita seu desenvolvimento –, suas variáveis conseguem dar uma identidade bem desenhada na construção do texto e especialmente na estruturação dos personagens.


O elenco liderado por Cláudia Abreu e Humberto Morais é um dos grandes acertos da produção. A temporada, com 8 episódios, tem total ciência do seu tamanho e como preencher esse tempo sem muito enxerto vazio. Claudia e Humberto são tratados como protagonistas desde o primeiro episódio, e os demais, mesmo com seus arcos individuais que não se expandem a longo prazo, estão ali para orbitar ao redor deles. E isso não é um ponto negativo, pelo contrário, mostra o quanto o roteiro está atento ao todo em vez de encher de personagens que vão brigar por tempo de cena. E não ache que por serem coadjuvantes seus papéis são menos relevantes ou menos embasados, afinal, várias das consequências dos protagonistas terão os coadjuvantes como causa. E todos os nomes do elenco de coadjuvantes entregam atuações irretocáveis. Sem querer ser injusto com um ou outro, vou apenas citar Elzio Vieira e Naruna Costa como exemplo de atuações precisas e marcantes em seus papéis. Destaque também para todas as atrizes e atores convidados que fizeram participações de apenas um episódios, ninguém fez menos que um ótimo trabalho.

Foto: Divulgação/ Prime Video


Cláudia e Humberto montam uma dinâmica completamente fluida e bem estruturada, num jogo de poder e de interesses onde os personagens parecem acompanhar a vontade dos atores de estarem ali, juntos, colaborando, disputando, aprendendo um com outro e costurando, cena a cena, corte a corte, ponto a ponto um vínculo forte e saudável, entre os atores, e perigoso e tóxico, entre os personagens. São personagens complexos e cheios de camadas muito bem desempenhados pelo par de atores.


O social é o que faz de Sutura uma série com cara brasileira. O texto sabe dosar o tanto de ação, suspense, drama, alívio cômico e sensualidade sem pender desproporcionalmente para nenhum dos lados. A alegoria de um hospital de luxo num prédio espelhado com uma clínica clandestina na parte inferior é rica e bem aproveitada com o sobe e desce dos personagens. Na parte de cima há sempre uma postura ética falsa, sorrisos forçados e palavras ácidas. Na parte de baixo não há qualquer pudor ou tentativa de maquiar a situação, é sempre visceral, brutal e desnudo. É nesse contrapeso moral entre alto e baixo, lá e cá, que Ícaro vê seus dilemas pessoais e profissionais se confrontando. Então tem crítica social bem explícita para o espectador mais obtuso, mas tem também suas sutilezas narrativas.


A competência da produção está impressa também na camada mais urgente da direção, o visual. Com uma câmera sempre ágil e esperta, os diretores Diego Martins e Jéssica Queiroz mostram versatilidade em conduzir o olhar do público seja em cenas de perseguição de motos ou seja nos procedimentos cirúrgicos, que por sinal apresentam veracidade no tratamento estético que ajudam a compor a construção do "real". 


Sutura se apresenta com uma primeira temporada que faz muito bem a sua lição de casa. É uma programa que conhece seu potencial e também suas limitações, e que não tenta fazer mais do que pode, e ela pode coisa pra caramba em sua coesão comedida. E, o sonho de toda série, apresenta um leque diverso de possibilidades para seu futuro, o que espero que aconteça o quanto antes.


Nota: 3,5/5

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