Adeus, obrigado por tudo e tits up!
Foto: Divulgação
No decorrer das suas cinco temporadas, The Marvelous Mrs. Maisel entregou uma trajetória de muitos altos e alguns baixos, mas com uma consistência que a faz por merecer o título de joia da coroa do Prime Video. Nem sempre as decisões criativas de Amy Sherman-Palladino me agradaram, mas ela infundiu a série com tamanho carisma e humanidade que era impossível não se afeiçoar ao árduo e complexo caminho de Mirian “Midge” Maisel (Rachel Brosnaham) para se tornar uma comediante de sucesso.
Esta última temporada vem com uma premissa muito clara: às vezes, a jornada é mais importante do que o destino. É um clichê, eu sei, mas ao mostrar que tudo que vimos até aqui na série foi uma “história de origem” de Midge – e contrabalanceá-la com vislumbres do futuro dos personagens nas décadas seguintes para indicar onde eles estarão e o que lhes acontecerá –, Mrs. Maisel toma uma decisão que pode não agradar a todos; afinal de contas, quantas vezes esperamos e torcemos pelo “vem aí” da protagonista, cuja capacidade de ascender e quebrar barreiras era diretamente proporcional à sua capacidade de queimar pontes? No entanto, é uma decisão que se mostra lógica e coerente com tudo que vimos nas temporadas anteriores.
Esses vislumbres do futuro se dão através de flashfowards que nos mostram as versões mais velhas de Midge, Susie (Alex Borstein), Joel (Michael Zegen), Abe (Tony Shalhoub), Rose (Marin Hinkler), Lenny (Luke Kirby), dos filhos da protagonista e outros tantos, através das décadas seguintes ao período em que a série se passa. Ver o quanto Midge se tornou bem-sucedida nos alivia por conta de quantas vezes a vimos fracassar, mas há algo de muito melancólico (e novamente, muito coerente) em também vê-la tão distante daqueles que lhe eram tão próximos.
Contudo, não chega a ser surpreendente: Amy Sherman-Palladino nunca se esquivou de nos mostrar o quanto Midge podia ser uma pessoa egoísta, imatura e falha, inclusive beirando o insuportável em alguns momentos (na temporada passada). Se por vezes isso me fez me irritar com a personagem, também é válida a pergunta: se fosse um personagem masculino tão anti-heroico, não seria muito provavelmente celebrado? Mesmo dentro de uma certa lógica do feminismo branco, a série sempre foi sagaz em suas críticas às desigualdades de gênero, que se mostram mais uma vez presentes aqui ao vermos Midge labutando para conseguir seu espaço como a nova roteirista do programa do popular Gordon Ford (Reid Scott).
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Chega a ser curioso como, se não fossem os flashfowards, essa temporada sequer teria cara de última, mas mesmo com as perguntas deixadas por esses vislumbres do futuro (a maioria delas respondida no fantástico sexto episódio), a série não se esquiva de focar nessa jornada e não no destino final, ainda que fique claro que o destino final aqui seja o momento em que Midge se tornará uma estrela. Não chega a ser surpresa que esse momento venha no último episódio (o qual é sem dúvidas o melhor da série inteira), e quando me peguei torcendo e comemorando pela conquista da protagonista, entendi naquele momento o quão bem-construída ela foi, mérito não só do roteiro, mas sobretudo da atuação magistral de Rachel Brosnahan, que sempre conseguiu dar vida a cada excentricidade e complexidade da personagem.
Mas Brosnahan não é a única a merecer os louros aqui. Temos Zegen como Joel, um personagem que recebeu uma bem-vinda redenção (e sei que sou minoria aqui, mas não me importo); Kevin Pollak e Caroline Aaron como seus hilários e neuróticos pais (quem aqui não é neurótico?); ou Hinkle e Shalhoub – este último recebendo um potente monólogo no penúltimo episódio. Mas para mim a grande arma secreta da série sempre foi Alex Borstein como Susie, cuja entrega cômica só era equiparável à sua entrega dramática. Se não fica mais do que claro pelo último episódio, a série sempre foi sobre a amizade de Midge e Susie e o amor de uma pela outra.
Mesmo numa trajetória com algumas imperfeições, Mrs. Maisel sempre me cativou pelo seu charme, inteligência e atenção aos personagens, e essa última temporada mantém esse nível. Vou sentir falta da sua energia caótica, da velocidade frenética dos diálogos, da direção de arte e fotografia luxuosas que tornaram a série inigualável, da trilha sonora e, sobretudo, das atuações. Veria facilmente mais cinco temporadas de Midge e Cia., mas não poderia ter recebido um final melhor. E sempre que as coisas estiverem difíceis, basta lembrar: tits up!
Nota: 4/5
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