Yorgos projeta estudo sobre crenças humanas, mas não vai muito além do rascunho
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O filme que disputou a Palma de Ouro apresenta três histórias entrelaçadas que exploram os caminhos imprevisíveis da vida e os desafios pessoais de seus protagonistas. Em uma narrativa, um homem busca recuperar o controle de sua vida após se perder em um caminho incerto. Em outra, um policial tenta reconstruir seu relacionamento com a esposa, que retorna misteriosamente após um período desaparecida, transformada de maneiras que desafiam sua compreensão. Por fim, uma mulher determinada a se tornar líder espiritual se lança em busca de uma pessoa dotada de habilidades únicas, numa jornada que testará sua própria fé e convicções.
Depois de passar por trabalhos mais pré-moldados o cineasta grego Yorgos Lanthimos volta a acenar para seus traços originais e, digamos, menos convencionais, retomando a parceria com o roteirista Efthymis Filippou. Mas até quem conheceu o trabalho de Yorgos no auge de sua autêntica esquisitice vai perceber que agora ele busca um diálogo maior com o comercial.
A estrutura narrativa de antologia e a temática de mistério fantástico (?) fazem lembrança imediata a pioneira Além da Imaginação (The Twilight Zone). A série que até hoje influencia ideias e roteiros mundo à fora usava das mais variadas alegorias visuais e estilísticas para abordar os limites da natureza humana. E apesar de querer esbanjar um alto valor de entrelinhas e excentricidade, o texto e o título querem basicamente brincar com as perspectivas do poder da crença e das paixões humanas.
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A primeira história indubitavelmente funciona melhor do que as duas seguintes pelo efeito surpresa que gradativamente vai perdendo a força nos capítulos 2 e 3. É uma ideia que funciona até literalmente se tornar irritante e entediante. A direção do cineasta segue taciturna e passadas duas horas a cadência das ações já não consegue atingir uma fluidez que se sustente mesmo sendo três enredos diferentes, mesmo tendo alívios cômicos com bastante ironia e sarcasmo e mesmo com os absurdos que o argumento usa para garantir que o espectador ainda esteja acordado.
Um dos aspectos que mais me admira no cineasta grego Yorgos Lanthimos é sua confiança com o elenco. Ainda que nos mais tolos de seus filmes ele sempre coloca as atrizes e os atores em situações pouco ou jamais exploradas em seus currículos. Apesar de todo o elenco está visivelmente comprometido em transmitir o máximo de credibilidade nos inimagináveis contextos criados no filme, Jesse Plemons é a grande estrela e consegue puxar para si os melhores momentos.
Ao final fica parecendo que o filme atira para tudo que é lado no desespero por passar mensagens ou lições de moral, mas a verdade é que ele acerta poucos alvos e não atinge tão distante quanto mirou.
Nota: 3/5
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