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Foto do escritorFilipe Chaves

Crítica | Todo o Tempo que Temos

Filme tenta dar uma nova roupagem a uma história que todos já ouvimos,

mas seu melhor está nas atuações de Pugh e Garfield

Foto: Divulgação


Inicialmente, fico feliz com o gênero romântico voltando às telonas com mais

força e mesmo que não atinja seu ápice com este longa, pelo menos ensaia

bem. Utilizando de uma narrativa não-linear para contar a história de amor

entre Almut (Florence Pugh) e Tobias (Andrew Garfield), vemos como eles se

conheceram, a gravidez e como enfrentam um câncer que volta a atingir a vida

do casal. É uma trama relativamente simples e artifício de ir e voltar no tempo

aparentemente só existe para diferenciar o filme de outros tantos. Abordando

temas comuns que todo mundo passa, o intuito principal é a valorização do

tempo, como o título diz, mesmo que a impressão que fique é de que o artifício

da não-linearidade seja usado para disfarçar a falta de profundidade do enredo

e cabe inteiramente a Pugh e Garfield a tarefa de dar humanidade aos seus

protagonistas.


A química dos dois é sentida desde o primeiro instante e ambos estão

excelentes nos papeis, pena que, principalmente, Tobias seja tão raso. É

praticamente um personagem de uma nota só e os conflitos com Almut surgem

somente em razão da família. Justamente porque em um dos primeiros

encontros ele já fala em filhos e depois que estão morando juntos e ela está

doente há outra briga em relação a data do casamento. É como se ele vivesse

em função dela e o roteiro não soubesse trabalhar bem as nuances do

personagem e o quisesse o colocar como o “bom moço”, enquanto quase

vilaniza Almut por ambicionar mais do que ser a mãe ou esposa de alguém. É

uma linha tênue e por pouco não foi ultrapassada. Como o texto os trata,

parece que são só personagens, mas é pela delicadeza de Garfield e Pugh que

os enxergamos como pessoas. Eles falam com os olhos e quando estão

marejados, é uma explosão de sentimento, mesmo que eles tentem se conter,

o que deixa tudo mais real.

Foto: Divulgação


Em Brooklyn, de 2018, John Crowley conseguiu contar uma história singela

com delicadeza e humanidade, atingindo todas as notas. Aqui, ele quase

repete o feito, mesmo sendo mais melodramático e tratando de assuntos como

um câncer terminal, conseguiu não ser apelativo, o que deixa a emoção muito

mais genuína, por mais previsível que seja. No começo, nós já sabemos o fim e

ele é realmente bonito, com uma tristeza iminente, que ressalta a perda, mas

mostra que a vida continua. Crowley é elegante neste sentido. Outro ponto

positivo é o humor e graças ao timing de Pugh e Garfield. Ainda que não seja

tão presente assim e pouco apareça nos momentos mais emotivos, mas é um

equilíbrio que funciona bem. É filmado com intimidade, focando no rosto dos

atores e o fato de se passar na Inglaterra passa uma atmosfera de filme

independente.


No entanto, o longa realmente depende do carisma de seus protagonistas para

nos envolver, já que o roteiro não os aprofunda e a escolha narrativa de não

ser cronologicamente linear também não ajudou em nada. O resultado é um

bom filme, mas que não consegue atingir todas as notas que queria e se

segura no talento de suas estrelas. Mesmo com a elegância de não ser

apelativo, parece que o longa se prende demais em certos momentos e não diz

nada novo no quesito de vida e morte, ainda que tente. É um romance que

poderia ser melhor, mas é o que temos e o saldo final ainda é positivo, apesar

dos pesares.


Nota: 3,5/5

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