Filme tenta dar uma nova roupagem a uma história que todos já ouvimos,
mas seu melhor está nas atuações de Pugh e Garfield
Foto: Divulgação
Inicialmente, fico feliz com o gênero romântico voltando às telonas com mais
força e mesmo que não atinja seu ápice com este longa, pelo menos ensaia
bem. Utilizando de uma narrativa não-linear para contar a história de amor
entre Almut (Florence Pugh) e Tobias (Andrew Garfield), vemos como eles se
conheceram, a gravidez e como enfrentam um câncer que volta a atingir a vida
do casal. É uma trama relativamente simples e artifício de ir e voltar no tempo
aparentemente só existe para diferenciar o filme de outros tantos. Abordando
temas comuns que todo mundo passa, o intuito principal é a valorização do
tempo, como o título diz, mesmo que a impressão que fique é de que o artifício
da não-linearidade seja usado para disfarçar a falta de profundidade do enredo
e cabe inteiramente a Pugh e Garfield a tarefa de dar humanidade aos seus
protagonistas.
A química dos dois é sentida desde o primeiro instante e ambos estão
excelentes nos papeis, pena que, principalmente, Tobias seja tão raso. É
praticamente um personagem de uma nota só e os conflitos com Almut surgem
somente em razão da família. Justamente porque em um dos primeiros
encontros ele já fala em filhos e depois que estão morando juntos e ela está
doente há outra briga em relação a data do casamento. É como se ele vivesse
em função dela e o roteiro não soubesse trabalhar bem as nuances do
personagem e o quisesse o colocar como o “bom moço”, enquanto quase
vilaniza Almut por ambicionar mais do que ser a mãe ou esposa de alguém. É
uma linha tênue e por pouco não foi ultrapassada. Como o texto os trata,
parece que são só personagens, mas é pela delicadeza de Garfield e Pugh que
os enxergamos como pessoas. Eles falam com os olhos e quando estão
marejados, é uma explosão de sentimento, mesmo que eles tentem se conter,
o que deixa tudo mais real.
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Em Brooklyn, de 2018, John Crowley conseguiu contar uma história singela
com delicadeza e humanidade, atingindo todas as notas. Aqui, ele quase
repete o feito, mesmo sendo mais melodramático e tratando de assuntos como
um câncer terminal, conseguiu não ser apelativo, o que deixa a emoção muito
mais genuína, por mais previsível que seja. No começo, nós já sabemos o fim e
ele é realmente bonito, com uma tristeza iminente, que ressalta a perda, mas
mostra que a vida continua. Crowley é elegante neste sentido. Outro ponto
positivo é o humor e graças ao timing de Pugh e Garfield. Ainda que não seja
tão presente assim e pouco apareça nos momentos mais emotivos, mas é um
equilíbrio que funciona bem. É filmado com intimidade, focando no rosto dos
atores e o fato de se passar na Inglaterra passa uma atmosfera de filme
independente.
No entanto, o longa realmente depende do carisma de seus protagonistas para
nos envolver, já que o roteiro não os aprofunda e a escolha narrativa de não
ser cronologicamente linear também não ajudou em nada. O resultado é um
bom filme, mas que não consegue atingir todas as notas que queria e se
segura no talento de suas estrelas. Mesmo com a elegância de não ser
apelativo, parece que o longa se prende demais em certos momentos e não diz
nada novo no quesito de vida e morte, ainda que tente. É um romance que
poderia ser melhor, mas é o que temos e o saldo final ainda é positivo, apesar
dos pesares.
Nota: 3,5/5
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