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  • Foto do escritorHosanna Almeida

Crítica | TÁR

A música e o silêncio como metáforas da glória e ruína de um modelo de humanidade

Divulgação: Universal Studios


Quando os créditos avisaram o final do filme, tive a impressão de que Todd Field, o diretor do longa, também lera Desonra, livro do autor sulafricano J.M. Coetzee — que escreveu Boyhood, e não, não é o filme do Linklater, mas achei que você deveria saber — em algum momento da vida. Lydia Tár, uma personagem puramente fictícia, ainda que pareça real -e o é, em certo modo, é uma maestro renomada por sua paixão, inovação e ousadia mas esconde segredos que, se revelados, mudariam o curso da própria vida. O longa e o livro encontram-se neste lugar: demonstram a decadência de um modelo de humanidade, e longe de fazê-lo sem críticas.


A direção e ambientação do filme provocam estímulos tais como o andamento de uma sinfonia. Todd Field, metalinguisticamente, exerce o papel de maestro, quando escolhe de que modo demonstrar uma cena ou posicionar uma câmera, o que prefere captar, onde deseja que seu olhar se demore ou não, como esconder um tesouro à vista. Cate Blanchett é a instrumentista que compreende a linguagem visual e executa com liberdade, fôlego, intensidade e sabedoria uma personagem que está no limiar da biografia/ficção sem ser caricata, ou apelativa demais. Não à toa o filme tem sido notado no circuito de premiações e, recentemente, carimbou 6 indicações ao Oscar, incluindo melhor direção e atriz.

Divulgação: Universal Studios


É extremamente interessante essa percepção como representação: a música e o silêncio como metáfora. A música, quando a personagem principal encontra-se com sua própria falibilidade e decadência, e o silêncio como harmonia, movimento, trajetória. É no silêncio que as contradições de Lydia são expostas, e é na música que elas se escondem à vista, demonstrando uma destreza muito singular na forma de contar a história. O filme é uma viagem e tanto, e desde o início assistimos uma casa de ferreiro cujas estruturas são de madeira - o dito popular nunca foi tão certeiro. As ruínas morais, dos princípios e valores da personagem estão entranhadas em sua paixão - a música. E se (neste caso é quando) isto decair por completo, o que restará?


Esta crítica é proposital e provocativamente curta porque quero utilizar a imortalidade da internet como aliada. Sempre que alguém ler esta crítica, sinta-se compelido a ir imediatamente assistir ao filme e trilhar, em primeira mão, o caminho proposto pela narrativa ao contemplar a imagem humana, que em seu crepúsculo, se despede, ainda que lenta e tardiamente.


Nota: 5/5

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