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Foto do escritorVinicius Oliveira

Crítica | Vulcões - A Tragédia de Katia e Maurice Krafft

Quando o cinema nos permite imergir nas possibilidades do amor (e da obsessão)

Foto: Divulgação


Toda vez que me ponho a pensar na vastidão do universo, sinto uma pontada de melancolia me dominar. Independentemente de sua fé ou crença (se é que tenha uma), há um certo peso esmagador quando nos enxergamos como o que realmente somos dentro da infinitude do cosmos — minúsculos e até insignificantes. Nem precisamos ir tão longe: basta olharmos para a Terra e a natureza, suas forças impiedosas e alheias a nós, humanos, conforme exercem seus poderes de destruição e criação.


Poucas forças da natureza representam tanto essa capacidade e dualidade quanto vulcões, e é nessa convicção que Vulcões: A Tragédia de Katia e Maurice Krafft se sustenta, usando a história de vida (e morte) do casal de vulcanólogos franceses Katia e Maurice Krafft. Apesar do subtítulo em português enfocar a tragédia (o casal morreu durante a erupção do Monte Ouzen, no Japão, em 1991), o documentário é tudo, menos trágico. Sim, o poder destrutivo dos vulcões observados e visitados pelos Krafft está sempre presente, mas mais do que isso, o filme está interessado em nos mostrar o que os atraiu tanto nesses vulcões, de forma que nos sintamos atraídos também.


Para isso, a diretora Sara Dosa se vale das próprias imagens de arquivo do casal, que gravavam ostensivamente suas expedições aos vulcões em erupção. Esses materiais, aliados aos diversos registros de entrevistas dadas por eles (em especial Maurice) durante os anos 1960 e 1990 e as leituras dos diários de Katia, permite que adentremos as vidas particulares e profissionais de ambos, como se eles mesmos fizessem esse convite do pós vida para os conhecermos melhor e entendermos (e vivenciarmos) a obsessão que os guiava.

Foto: Divulgação


As intenções de Dosa são claras: usar a história de amor dos Krafft para entrelaçá-la com o amor de ambos pelos vulcões. Mas sua abordagem passa longe de ser chapa-branca: uma vez que temos acesso direto ao que Katia e Maurice gravaram, é fácil entender o que os uniu em primeiro lugar e os manteve juntos mesmo com suas nítidas diferenças até o último dia de vida dos dois. É inevitável pensar em diversos momentos do documentário: “eles são loucos”, e ao mesmo tempo... é fácil entender porque eles foram atraídos por algo tão comum. Mesmo nos instantes mais trágicos — erupções no Congo, nos EUA, na Colômbia e a no Japão que ceifou suas vidas —, há uma beleza magnética e desafiadora em imagens de montanhas cuspindo fogo e gases, em rios de lava que trazem destruição e lava, nos atraindo na medida em que nos assombra.


Se há um porém aqui, é na escolha da narração em off. Não só porque a maioria dos materiais de arquivo falam por si só (e em diversos momentos Dosa entende isso, dando voz a Katia e Maurice e a eles apenas), mas porque o tom monocórdico adotado por Miranda July, ao mesmo tempo em que consegue fugir dos chavões de documentários sobre natureza, também parece deslocado, incoerente com o tom que o próprio longa adota. Depois de um tempo é até possível se acostumar com esse modelo de narração, mas acaba sendo o calcanhar de Aquiles da obra.


A despeito dessa estranha escolha, contudo, Vulcões: A Tragédia de Katia e Maurice Krafft consegue com maestria nos por na pele de Katia e Maurice, entender esse amor tão obsessivo por vulcões e partilhar desse amor por pouco mais de 1 hora e meia. Uma das mágicas do cinema é nos permitir empatizar e viver sentimentos e conexões que de forma alguma vivenciaríamos na vida real. Nesse aspecto, portanto, Vulcões: A Tragédia de Katia e Maurice Krafft é mais do que bem-sucedido, mesmo que jamais passemos perto de um vulcão.´


Nota: 4,5/5

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