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Foto do escritorÁvila Oliveira

Crítica | Wendell & Wild

O diretor Henry Selick entrega mais um excêntrico filme com lições de moral embaixo de uma versão própria do sobrenatural

Divulgação: Netflix


Dirigida pelo marcante Henry Selick, Wendell & Wild apresenta Kat, uma jovem que se culpa pelo acidente que gerou a morte de seus pais. Tendo vivido em orfanatos, ela se torna uma adolescente rebelde até que é transferida para um colégio interno católico na cidade onde morava com seus pais quando criança. O retorno à cidade desperta vários sentimentos na garota que, tendo que aliar seus fantasmas do passado às novas pessoas em sua vida, terá que, literalmente, enfrentar seus demônios para superar medos e lembranças reprimidas que a assombram até hoje.


A arte de se produzir, montar e dirigir uma animação em stop-motion por si já deve ser contado como um ponto para o filme, afinal, esse tipo de animação imprime um estilo único que visualmente o difere das animações completamente digitais. Então, de antemão, visualmente o filme é um espetáculo. A forma com que o diretor dá relevância ao uso de texturas e formas, mais do que com cores como grande parte das animações, no desenvolvimento de personagens e em todo o design de produção mostra o quão segura é a mão do diretor em relação à criação de um estilo próprio. E estilo o filme tem de sobra. Utilizando traços que se assemelham ao cubismo para dar identidade ao seu surrealismo sobrenatural, o resultado é ao mesmo tempo, artesanal e sofisticado.


Os trabalhos mais relevantes de Selick são animações que abordam, de alguma forma, o sobrenatural. O cultuado O Estranho Mundo de Jack (1993) chegou a concorrer o Oscar de Melhores Efeitos Visuais na premiação de 1994 (a categoria Melhor Animação ainda não existia) e o thriller Coraline e o Mundo Secreto (2009) deu a Selick uma indicação na categoria Melhor Animação. E diferente dos citados, o longa animado da Netflix parte de uma ideia original de Selick, o que implica alguns fatores positivos e negativos. O fato do filme estar imerso num texto que funciona bem na cabeça do seu autor faz com que algumas motivações do roteiro sobre o universo da história, e sobre o enredo no geral, façam bastante sentido para ele, mas nem tanto para quem está entrando naquilo tudo pela primeira vez. O que me parece é que Selick sempre dirige filmes de forma que o divirtam e é meio indiferente à forma como vamos digerir ou conceber suas extravagâncias.


Mas é sempre bom ver como ele aborda o macabro em filmes “para o público infantil”, por assim dizer. Ele trata de assuntos como moral, fé e laços familiares, com uma seriedade, uma estranheza e um tom de suspense que não se vê com frequência em animações. Wendell & Wild faz uma concisa análise de causa e consequência que vai além da rasa dualidade de bem e mal facilmente encontrada na maioria dos filmes para crianças.


A animação é sólida e segura do que está entregando. É relevante também citar a diversidade dos personagens (e do elenco), o que ajuda ainda a dar um ar distinto ao filme. Não sei se eu classificaria como um filme divertido ou se veria de novo com a mesma empolgação inicial, mas ele passa sua mensagem e deixa uma boa impressão.


Nota: 3,5/5

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