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  • Foto do escritorRafael Carvalho

Emmy 2024: Quando a Expectativa Encontra a Surpresa – Uma Análise da Temporada

Atualizado: 18 de set.

Em um ano pós-greve e com expectativas baixas, a premiação superou a apatia nos momentos finais

Divulgação: Max


No último domingo, dia 15, aconteceu o Emmy 2024, uma edição que, para muitos, parecia uma das mais apáticas e desinteressantes dos últimos anos. 


Isso porque, desde o início da temporada de premiações, O Urso dominou suas respectivas categorias, deixando pouco espaço para surpresas. Nas categorias de série limitada ou antologia, Treta venceu tudo que podia, incluindo em cima de indicadas do Emmy deste ano. Além disso, com o fim de Succession — que, assim como a citada anteriormente, ainda conseguiu competir no Globo de Ouro, SAG e Critics' Choice devido à elegibilidade — a categoria de Drama ficou completamente em aberto. Mas será que essa abertura trouxe alguma renovação ou foi apenas uma formalidade previsível?


Antes de nos aprofundarmos nisso, vamos relembrar os vencedores das premiações mencionadas anteriormente:


  • Succession: 4x Globo de Ouro, 4x Critics Choice, 1x SAG, PGA…

  • O Urso: 3x Globo de Ouro, 4x Critics Choice, 3x SAG, DGA, PGA…

  • Treta: 3x Globo de Ouro, 4x Critics Choice, 2x SAG, PGA…

  • The Crown (Elizabeth Debicki): 1x Globo de Ouro, 1x Critics Choice, 1x SAG…

  • The Last of Us: 1x SAG, DGA…

  • Fellow Traveler’s (Jonathan Bailey): 1x Critics Choice

  • Lessons in Chemistry: DGA


Agora, com essas vitórias relembradas na análise, sem falar diretamente do Emmy por enquanto, percebem que, apesar de pequenas variações, os mesmos vencedores se repetem constantemente em várias premiações. Esse padrão é preocupante para muitos que acompanham de perto o circuito de premiações, que deveriam, em tese, funcionar como um termômetro criativo da indústria televisiva.


No entanto, parece que estamos presos em um ciclo repetitivo, onde poucas produções dominam quase todas as categorias de forma automática. Partindo do princípio de que esses prêmios são, acima de tudo, programas de TV em busca de audiência e prestígio, até quando o público vai tolerar essa falta de renovação, enquanto as próprias premiações afirmam valorizar a inovação?


Essa hegemonia pode ser justificada até certo ponto. O Urso realmente se destacou na temporada e, em muitos aspectos, mereceu seu reconhecimento. Mas será que deveria ter vencido em todas as categorias? Será que outras produções não foram ofuscadas por uma tendência da crítica e da indústria em premiar o que está mais em evidência, por pura conveniência? Todos sabemos que a resposta é sim. 


Como já mencionado, o Emmy e outras premiações são feitas pela indústria e para a indústria, e isso dificilmente mudará. No entanto, será cada vez mais difícil suportar mais uma década sem a devida consideração pela diversidade do que há de melhor na TV. Afinal, essa apatia é sentida por todos que acompanham. E eu, como um mero fã de The Leftovers e The Wire, sei que isso acontece há décadas. 


Acredito que estamos chegando a um ponto em que o mercado está tão saturado de novidades e estreias que, como afirmou John Landgraf, presidente da FX Networks, ninguém vai acabar assistindo a nada. E as premiações seguem esse mesmo caminho: sem mudanças significativas e sem perspectivas de melhora.

Divulgação: FX


Para analisar o Emmy deste ano com mais profundidade, vamos incluir também os vencedores do TCA Awards 2024. Esta premiação, concedida pela Associação de Críticos de Televisão dos Estados Unidos, é amplamente reconhecida por muitos - e por mim - como uma das mais justas. Afinal, como todo prêmio deveria ser, os críticos que a compõem assistem ao que indicam e premiam com base nisso. Neste ano os ganhadores foram:


  • Série de Drama: Shogun (FX)

  • Série de Comédia: Hacks (Max)

  • Série Limitada: Bebê Rena (Netflix)

  • Atuação em Drama: Anna Sawai (Shogun)

  • Atuação em Comédia: Jean Smart (Hacks)

  • Programa do Ano: Shogun (FX)

  • Novo Programa do Ano: Shogun (FX)


"Mas, Rafael, isso é exatamente o que você mencionou antes: repetição de vencedores e pouca variedade." Sim e não. Embora tenhamos visto as mesmas séries ganhando, o problema não está na repetição em si. O verdadeiro problema surge quando essa repetição acontece sem justificativa, ou seja, quando as séries vencedoras não apresentam razões claras para sua predominância.


E mais: embora eu considere o TCA a premiação mais justa, até eles cometem deslizes. Um exemplo é nunca terem premiado Reservation Dogs. A diferença é que, ao contrário de outras premiações, o TCA reconheceu a série em todas as suas temporadas, inclusive na principal categoria de Melhor Programa do Ano. Para comparação, o Emmy só a indicou em categorias principais na última temporada, apesar de sua inegável contribuição à televisão, tanto pela qualidade narrativa quanto pela inédita representação indígena, tanto nos bastidores quanto diante das câmeras. Sim, estou insistindo no mesmo ponto.


Agora, entrando no que vocês realmente querem saber: o Emmy 2024 e seus vencedores. Para facilitar a análise, vou dividir os resultados e minha opinião por gênero. Vamos lá!


Série Limitada

Divulgação: Netflix


Essa categoria se renova a cada ano, já que a maioria das séries limitadas ou antologias tem apenas uma temporada e, quando possuem mais, geralmente apresentam novas histórias. Olhando para trás, percebemos que as regras dessa categoria passaram por várias mudanças, seja com a inclusão e exclusão de filmes para TV ou com a introdução das antologias. Isso é especialmente relevante devido ao boom das minisséries nos anos 2010. Se antes havia anos com apenas dois indicados por conta da escassez de produções, hoje temos cinco indicados fixos, refletindo a crescente demanda e a diversidade do gênero. 


Em 2024, as novatas Lessons in Chemistry (Apple TV+) e Ripley (Netflix) foram indicadas, ao lado das veteranas Fargo (FX) e True Detective (HBO), que, apesar das expectativas iniciais, acabaram surpreendendo com suas novas temporadas. No entanto, nenhuma delas conseguiu superar o fenômeno Bebê Rena (Netflix). A série, criada, escrita e estrelada por Richard Gadd, tornou-se um dos maiores sucessos da década na Netflix, dominando a categoria. Bebê Rena venceu como Melhor Minissérie, Ator (Gadd), Atriz Coadjuvante (Jessica Gunning) e Roteiro, conquistando seis das 11 categorias em que foi indicada. 


Surpreendentemente, o número de vitórias foi menor do que o esperado, já que havia chances de vencer também em Melhor Direção em Minissérie, prêmio que foi para Steven Zaillian por Ripley.


Essas dominações, como mencionei no início, têm se tornado frequentes. No Emmy passado, Treta (Netflix) conquistou 8 dos 13 prêmios para os quais estava indicada. Em 2022, The White Lotus (HBO) venceu impressionantes 10 prêmios e, neste ano, ainda dominou metade das categorias de coadjuvante (algo que se repetiu no ano seguinte, quando passou para as categorias de drama). Será que metade dessas indicações realmente foi merecida, ou a aclamação em torno de The White Lotus acabou influenciando as escolhas? Sabemos a resposta.


Enfim, para finalizar esse tópico, as veteranas Fargo e True Detective acabaram cada uma levando um prêmio para casa. Lamorne Morris fez com que a antologia do FX vencesse o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante, enquanto a oscarizada Jodie Foster conquistou o Emmy de Melhor Atriz em Minissérie por seu trabalho na série da HBO.


Série de Drama

Divulgação: FX


Após o domínio de Succession na edição anterior do prêmio, surgiram dúvidas sobre qual série herdaria seu legado. Seria The Crown? Após a recepção morna da última temporada, muitos descartaram essa possibilidade. Ou talvez a nova aposta dos criadores de Game of Thrones, David Benioff e D. B. Weiss? Acertou quem apostou em 3 Body Problem, que recebeu uma indicação, mas foi sua única no Primetime Emmys. E quanto a The Morning Show? Sendo sincero, se não houvesse uma grande concorrente no páreo, não me surpreenderia se tivesse levado, especialmente após receber 16 indicações, muitas delas nas categorias principais.


Eu diria que Slow Horses foi a grande surpresa da categoria do ano. Esnobada nas suas duas primeiras temporadas, a série chegou com força em 2024, recebendo 9 indicações e levando para casa o prêmio de Melhor Roteiro em Drama. Essa vitória teria sido a maior surpresa da noite, não fosse o último caso que discutirei neste artigo. Criada por Will Smith, a série de espionagem do Apple TV+ é uma das poucas produções que consegue estrear pelo menos uma temporada por ano, e às vezes até mais — falamos um pouco sobre isso nesta análise aqui, o que torna essa vitória ainda mais significativa.


Enfim, no final das contas, nada disso importa quando a grande novata do ano, Shogun, chega com os dois pés na porta e bate o recorde de maior número de vitórias por uma única temporada, com impressionantes 18 prêmios. 


Além disso, tornou-se a primeira série majoritariamente falada em língua não-inglesa a ganhar o troféu principal. Mas voltamos à mesma questão: será que entre esses 18 prêmios, não havia uma série capaz de desafiar o grande nome do ano? Havia, sim. Séries como Silo, The Curse, Tokyo Vice, Sugar, For All Mankind e Dark Winds estavam presentes, mas nenhuma delas recebeu uma indicação nas categorias principais. 

Será que elas foram assistidas? Eu duvido muito — lembrando que críticos não votam no Emmy, apenas pessoas de dentro da indústria, como atores, diretores, roteiristas. Contudo, também é importante considerar que estamos falando de uma edição esvaziada, sem grandes veteranos competitivos, e os que foram considerados não foram tão bem recebidos.


Fico muito feliz por Shogun, de verdade. Só ela ou Slow Horses poderiam vencer esse prêmio e honrar a grandiosidade da categoria. Mas será que era necessário conquistar tanto, ou precisava mesmo? O futuro e a trajetória da série vão nos mostrar.


Série de Comédia

Divulgação: Max


Todos que acompanharam a temporada de premiações sabiam que O Urso era o grande favorito do ano. A série conquistou tudo: Globo de Ouro, Critics' Choice, PGA, DGA… Não parecia haver ninguém com real chance de desafiá-la, especialmente após ter vencido vários prêmios no Creative Arts Emmy e começado a noite ganhando outros. Jeremy Allen White e Ebon Moss-Bachrach foram novamente premiados como Melhor Ator e Ator Coadjuvante em Comédia, respectivamente. Liza Colon-Zayas conquistou o troféu de Melhor Atriz Coadjuvante, um reconhecimento merecido pela terceira temporada da série, apesar da competição ser da segunda temporada (a FX estrategicamente lançou cada temporada durante o período de votação do Emmy, lembrando aos votantes da série). Além disso, o prêmio de Melhor Direção em Comédia foi para o trágico e brilhante episódio Fishes.


Enfim, tudo indicava que O Urso seria o grande vencedor da categoria principal do gênero, até que Jean Smart surgiu com uma surpresa e roubou o protagonismo para Hacks (Max), que finalmente levou o prêmio de Melhor Série de Comédia, após ter ficado perto da vitória em duas ocasiões anteriores. A polêmica sobre se a série de Christopher Storer se enquadrava ou não como comédia pode ter influenciado essa decisão, mas essa questão pode ser abordada em outra análise, pois esta já está bastante extensa.


"Alguns de vocês estão esperando que façamos uma piada sobre se ‘The Bear’ é um drama ou uma comédia. Mas, no espírito de ‘The Bear’, não faremos nenhuma piada." — Eugene Levy no palco do Emmy.


De verdade, acompanho toda a temporada de premiações, seja de TV ou cinema, e nos últimos anos nada chegou perto da surpresa que tive quando Catherine O’Hara anunciou o nome de Hacks no palco. Não foi por questionar a qualidade da série, mas por tudo que tentei expressar neste artigo. 


O Emmy é uma premiação previsível; com os preditores certos, você já sabe quem vai vencer. Com uma rápida olhada no site Goldderby, dá para prever os prêmios com precisão. Mas, dessa vez, a Academia de Televisão decidiu surpreender de forma muito positiva justamente na última entrega da noite, e foi um final mais do que satisfatório.


No Bluesky, os fãs ficaram em êxtase; nem os mais otimistas, torcendo pela série de Lucia Aniello, Paul W. Downs e Jen Statsky, acreditavam no que havia acontecido. E é exatamente para isso que as premiações também servem: surpreender, inovar e premiar quem realmente merece. 


Talvez tudo tenha sido potencializado pela falta desse sentimento de surpresa no restante da noite e nos anos anteriores? Sem dúvidas alguma, mas é ótimo saber que de vez em quando isso ainda pode acontecer.


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