Entrevista | Diretor e vozes principais de "Abá e sua Banda" falam sobre a animação infantil
- Gabriella Ferreira
- 3 de abr.
- 8 min de leitura
Durante press day do filme que chega aos cinemas em 17 de abril, Humberto Avelar, Filipe Bragança e Robson Nunes conversaram com o OP.

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Um reino de frutas. Um rei sem forças para continuar no comando. Um príncipe órfão de mãe e avesso ao seu destino. Um mundo em risco iminente. Estes são alguns dos ingredientes de Abá e sua Banda, uma aventura musical que acompanha a trajetória de um jovem abacaxi em conflito com seus sonhos e suas responsabilidades. É uma história de aceitação e amadurecimento.
Na trama, que será lançada em 17 de abril nos cinemas de todo o país, Abá é um jovem príncipe cujo maior desejo é ser músico. Ele consegue escapar do castelo do pai sem ser reconhecido por ninguém. Quando conhece Ana, uma garota que toca bateria, o rapaz percebe a oportunidade de formar uma banda ao lado do amigo de infância, Juca, um músico genial. É o primeiro passo para seguir o sonho de criança: tocar no Festival da Primavera, o maior evento do reino de Pomar, responsável pela renovação da natureza. Abá vai precisar da ajuda dos amigos para enfrentar Don Coco, que quer acabar com a diversidade que existe no local.
Durante o evento de press day do filme, o diretor Humberto Avelar (que também dá a voz ao vilão da história), Filipe Bragança (voz de Abá) e Robson Nunes (Juca) conversaram com o OP sobre o longa infantil que promete agradar crianças e adultos com um roteiro perspicaz que fala sobre muitos dos males do mundo atual de forma didática e lúdica.
Gabriella Ferreira (Oxente Pipoca): Primeiramente queria dizer que eu amei o filme e me diverti bastante assistindo e gostaria de saber como vocês acham que Abá e sua Banda, apesar de ter uma pegada infantil, pode ajudar as crianças a se envolverem com temas como meio ambiente, justiça e tirania?
Humberto Avelar: Bem, como é um tema geral, posso dar uma palhinha. Estamos vivendo um momento difícil no mundo, com muito antagonismo e polarização. O filme, de certa forma, toca nesse assunto através do vilão, que é totalitarista e quer que todos estejam a seu serviço e sejam iguais a ele. Isso é uma questão muito importante. Ele é o Coco, que simboliza uma cabeça dura, alguém que não consegue entender a diversidade—o fato de que cada um pode ter um sabor, um jeito, um formato e uma cor diferente. Acho muito interessante como o filme aborda esse tema de forma leve, já que é uma animação infantil. Assim, as crianças têm o primeiro contato com essa questão desde cedo.
Uma coisa interessante é que, apesar de haver uma guerra e uma batalha no final entre o povo e o tirano, o conflito não é resolvido propriamente pela violência. A chegada das abelhas, que têm o poder do pólen, faz essa violência regredir. Ou seja, os guardas voltam a um estado mais puro, retornando ao que eram quando ainda eram coquinhos, antes de serem colhidos. Eles são, de certa forma, purificados daquela raiva. Quando a raiva desaparece e o pólen se espalha, conseguimos pensar melhor. Tanto que, no final da história, a coroa é jogada para o público, e não há mais um rei. O Abá não assume o trono; em vez disso, temos uma guitarra no final, simbolizando outra forma de liderança e expressão. É uma maneira de mostrar que existem soluções além da polarização e da violência. Podemos olhar para o outro, conversar e aceitar as diferenças. Essa é uma forma muito legal de introduzir esse assunto para as crianças.
Filipe Bragança: Eu acho que, para complementar, porque você já falou muita coisa, um bom filme de animação infantil, como é o caso do nosso, reconhece que a criança não vai para o cinema sozinha. Então, provavelmente, os pais estarão juntos.
E eu acho que é muito importante que o filme se comunique também, não só com as crianças, mas com os adultos. E talvez até plantando sementinhas e criando reflexões que podem surgir de uma maneira mais intensa nas crianças só depois de vários anos.
Eu fiquei pensando sobre Vida de Inseto, que é um filme muito político, e eu só fui entender isso quando reassisti depois de muito tempo. Porque, quando era criança, para mim, era só um filme em que as formiguinhas brigavam com os gafanhotos e era isso. Mas, na verdade, ele traz reflexões políticas importantes também.
E eu acho que esse é o caso do nosso filme, Abá e sua Banda. Ele traz reflexões importantes que podem entreter não só as crianças, mas também os pais, os jovens, os adultos que forem assistir. Ele consegue discutir um pouco de política e, como o Humberto falou, encontrar soluções que não se baseiam apenas na governabilidade ou nesses termos, mas talvez em algo maior. No caso do filme, a música aparece como um elemento importante para a união e para a criação de uma sensibilidade coletiva, de um povo.
Então, eu acho que isso é muito bonito e que o filme é muito inspirador nesse sentido. Além de ser, claro, um filme divertido, né?
Robson Nunes: Eu concordo plenamente com os dois, e o Felipe falou sobre plantar sementes… Se tem um filme que faz isso, é esse, viu, gente? Porque temos várias frutas ali! Mas, trocadilhos à parte, eu acho que há essa percepção dos pais que estão assistindo, porque eles têm uma visão geral da questão política e tudo mais.
Só que tudo isso é introduzido para as crianças de uma forma muito lúdica, mostrando como as coisas acontecem e como existem várias perspectivas. Eu não sei se essa é a palavra certa, mas um dos pontos altos do filme é justamente a diversidade e como ela é abordada. Essa forma lúdica com certeza impacta tanto as crianças quanto os adultos.
Eu já estava muito orgulhoso de ter feito esse filme, mas, quando vi tudo pronto, fiquei ainda mais entusiasmado. Sou um verdadeiro entusiasta desse projeto! Onde quer que ele vá, eu estou chamando a galera para os festivais, divulgando, agitando para que, depois do dia 17, todo mundo vá assistir.
Tenho muito orgulho de fazer parte disso e de saber que nosso cinema tem uma animação tão incrível assim—uma obra que preenche todas as esferas possíveis e necessárias.
Gabriella Ferreira (Oxente Pipoca): Como foi para vocês dublar uma animação tão divertida? Imagino que tenha sido um trabalho muito satisfatório e bem diferente do que vocês estão acostumados em atuações para filmes. Como foi essa experiência, especialmente envolvendo canto e trilha sonora? E para você, Robson, que fez uma voz bem diferente da que costuma fazer, como foi esse desafio?
Robson Nunes: Ah, eu… eu fiquei… é sempre uma satisfação, né? E assim, a dublagem já é muito gostosa de fazer. Se você vai fazer um trabalho direcionado para criança, então, né… Mas a voz original tem todo um charme, porque é você, né? Você tem total liberdade para criar ali, para propor, porque a animação é feita a partir do que a gente interpretou.
Então, a gente fica mais livre para propor, para jogar, e foi uma delícia, porque o Juca era esse cara… Eu tava falando na outra entrevista que a gente teve um tempo para criar a voz, para achar como seria o Juca. Então, eu mandei algumas opções, aí o Humberto falou: "Pô, acho que assim tá legal". E era uma delícia fazer.
Tanto que, quando terminou a pré-estreia no Rio agora, a minha afilhada de 4 aninhos chegou e falou: "Mas não era você! Faz a voz dele!". Aí eu fazia, e ela ficou encantada, sabe? Então, é uma delícia. Trabalhar para esse público é muito gratificante, ver o olhinho deles brilhando… é muito legal.
Filipe Bragança: Eu queria deixar o devido crédito para a Carol também, que faz a Ana. Ela não está aqui conosco, mas é uma excelente dubladora e fez um trabalho espetacular. A personagem é muito divertida, e isso se deve muito ao trabalho dela.
Foi muito bom esse nosso trio que conduz o filme, porque são personagens muito autênticos. E a gente pôde, justamente como o Robson disse, explorar essa liberdade. Eu já tinha dublado animação antes, mas nunca tinha feito a voz original, então foi uma experiência muito divertida e especial.
Inclusive, foi ainda mais marcante porque estávamos em um período de pandemia. Fizemos a dublagem em 2021, né? Foi isso, Humberto? Sim, 2021. Então, ainda vivíamos um momento difícil, com pouca esperança e alegria para todos nós.
Poder entrar no estúdio e contar uma história tão divertida, com personagens tão lúdicos, podendo brincar com isso, foi muito especial dentro desse contexto. Então, é isso… foi muito massa, foi muito legal, muito especial.
Humberto Avelar: Uma curiosidade interessante sobre o processo foi que, como começamos na pandemia, inicialmente marcamos para gravar as vozes no estúdio, mas, com a chegada da pandemia, tudo foi cancelado. Ficamos esperando a situação melhorar, mas o filme não podia parar.
Então, algo que eu já tinha feito em algumas produções menores e que funcionava bem foi criar uma voz de guia. Eu montei o storyboard e o animatic. Para quem não sabe, o animatic é basicamente o storyboard editado no tempo do filme, com todos os takes organizados para que a gente possa planejar o andamento da produção. Isso era essencial para calcular os custos do filme, definir quantos cenários seriam necessários e entender melhor o trabalho de cada cena.
Como precisávamos seguir com o processo, gravei todas as vozes do filme em casa! Minha esposa, Mônica, fez as vozes femininas, e meu filho, Gabriel, que tinha 5 anos na época, fez algumas vozes de criança. Então, o filme inteiro existe nessa versão, com a minha voz e a da minha esposa.
E o mais curioso é que minha esposa acabou ficando com os papéis da Moran Queen e da Mel Melancia, enquanto eu fiquei como o Dom Coco, o vilão da história. Depois, claro, substituímos todas as vozes pelos atores oficiais, mas foi um trabalhão.
No fim, montamos o filme todo nessa versão de guia, e quando assistimos, percebemos que ele já estava pronto para ser animado, mesmo sem as vozes definitivas. Foi uma loucura, mas deu certo.

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Gabriella Ferreira (Oxente Pipoca): O filme já passou por alguns festivais, então vocês já tiveram um gostinho da recepção do público. Qual é a expectativa de vocês para o lançamento no dia 17? Como esperam que o público receba o filme?
Humberto Avelar: A gente tem certeza de que as crianças vão gostar, porque até a gente já experimentou durante todo o processo de execução do filme. A gente foi mostrando para criança o tempo todo, testando. A gente fez aquelas exibições testes com o público para ver como é que funcionava. A gente fez os festivais, a gente sabe que as crianças embarcam.
Agora, a nossa missão é promover o filme para as crianças irem lá assistir, né? Porque esse trabalho já é um outro trabalho, divulgar.
Filipe Bragança: Eu acho que é um momento especial para o cinema brasileiro como um todo, né? A gente vem de uma toada muito importante, então eu espero que o filme surfe um pouco nessa onda.
E espero também que não seja só uma onda, mas que o nosso público passe a valorizar mais o cinema feito aqui, pelos nossos artistas, pelos nossos atores, dubladores, realizadores, enfim.
Então, estou esperançoso. Acho que pode ser um filme muito vitorioso nesse sentido. E, mais importante que isso, é um filme sensível, especial e que é sentido não só pelas crianças. Na pré-estreia, por exemplo, eu estava com um amigo da minha idade, que adora cinema, e ele estava super empolgado com o filme.
Então, acho que é isso: o filme cumpre com o que tem que cumprir, sabe? É um bom filme.
Robson Nunes: O filme é muito maneiro, eu concordo e acho que vai bombar! Eu tô na torcida aqui para que, em 2026, o Juca, o Abá, a Ana Banana virem bonecos de Olinda, entendeu?
Eu tô nessa torcida para que todo mundo veja, porque a gente tem que valorizar o que é nosso e saber que a gente manda bem, né? A gente sabe fazer cinema e fazer muito bem! Então, é isso, dar valor ao que é nosso.
E como eu falei, tô divulgando, falando para a família… Minha família é grande, só com a bilheteria deles já vai ter uma galera no cinema! Então, façam o mesmo!
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