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  • Foto do escritorCaio Augusto

Entrevista | Diretora de "Filhos do Mangue" fala sobre como o Mangue é um cenário vivo e o ponto chave da trama

A diretora Eliane Caffé conversou com exclusividade com o Oxente, Pipoca?

Foto: Divulgação


O longa-metragem “Filhos do Mangue”, dirigido pela cineasta paulista Eliane Caffé (“Narradores de Javé”) fará parte da programação da 52ª edição do Festival de Gramado, um dos principais eventos de cinema do Brasil. Se destacando como única produção nordestina, filmado em Barra de Cunhaú no município de Canguaretama. A trama de Filhos do Mangue foca no pescador Pedro Chão, interpretado pelo ator Felipe Camargo. Pedro, um homem com um caráter questionável, surge ferido e sem memória em uma comunidade ribeirinha e é acusado de roubo. Durante um julgamento comunitário, revelam-se situações envolvendo violência doméstica, violência de gênero, tráfico de pessoas e desvio de recursos públicos.


Em entrevista exclusiva ao Oxente, Pipoca? A diretora Eliane Caffé nos contou sobre o processo de criação do personagem principal interpretado pelo ator Felipe Camargo: “Ele foi uma versão que o escritor Sérgio Prado havia criado para seu livro, Capitão. Na versão atual que está no filme, a construção do personagem aconteceu junto com o trabalho de entrega potente do Felipe Camargo, sempre em fricção com os personagens reais da comunidade de Cunhaú”, relatou ela.


O filme possui um grande elenco, e inclusive contou com a participação da população local da comunidade de Barra do Cunhaú em algumas cenas. Há uma cena em que Pedro Chão é amarrado em uma cadeira e inicia-se uma grande discussão entre os moradores. Para Eliane Caffé, é importante que essas discussões sejam filmadas de forma que o elenco embarque na situação: “As assembleias e reuniões coletivas na vida real são sempre momentos incendiários do convívio coletivo. A catarse energética de muitas mentes em choque e fusão. Na encenação,  essa vontade coletiva de ganhar expressão contagia a todos que estão em cena. Uns apoiam os outros e a cena flui. Nós, a equipe,  é que temos que correr atrás.”, diz ela.

Foto: Divulgação


Perguntamos também sobre o tom de denúncia à violência doméstica que está presente no filme, e de que forma reflete a realidade da comunidade retratada no filme: “Creio que reflete a realidade do país inteiro e em outro grau, do mundo todo. A violência contra a mulher está presente quase em todas as nações e culturas.  É um paradigma crônico e temos muito a fazer pra mudar isso. A meu ver é uma questão que se alimenta do modelo econômico mais do que dos costumes. Muito difícil.”, explica Eliane.


Para Eliane Caffé, o mangue é um personagem vivo da trama que vai muito além de uma escolha de cenário: “O Mangue é um multiuniverso que evoca metáforas infinitas com o arco dramático da vida humana. Não há como ele ser apenas cenário de fundo. Ele é a própria carne dos personagens em outra dimensão mais profunda.  Ele começa em nosso silêncio. Como a natureza do que somos sem saber como.”, completa.


Por fim, a diretora paulista também comentou sobre a importância de Filhos do Mangue ter sido filmado em Barra do Cunhaú (RN) que tem a produção da produtora nordestina Pé na Estrada Filmes: “A cultura nordestina é tão rica, múltipla, generosa que me pergunto o quanto nós,  que operamos no cinema dos centros econômicos, precisamos da regionalidade nordestina pra revitalizar a linguagem do cinema como um todo.”, conclui a diretora Eliane Caffé.

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