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  • Foto do escritorÁvila Oliveira

Entrevista | Karim Aïnouz conversou sobre "Motel Destino", Ceará e suas principais referências para o filme

O novo filme do premiado diretor chega aos cinemas próximo dia 22 de agosto e foi inteiro gravado na cidade de Beberibe, no Ceará

Foto: Divulgação/ Jarbas Oliveira


No último sábado (02), o diretor cearense Karim Aïnouz concedeu entrevista exclusiva ao Oxente, Pipoca? para falar do seu novo longa-metragem, Motel Destino. A trama acompanha o jovem Heraldo (Iago Xavier), que se esconde no estabelecimento de beira de estrada que batiza o filme enquanto foge da polícia. Por lá, ele transforma o cotidiano atribulado do casal Dayana (Nataly Rocha) e Elias (Fábio Assunção).


No início da entrevista, o cineasta contou o que quis representar com o projeto que concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes 2024. “A ideia era fazer um filme que fosse acessível, que você entenda o que acontece na história, eu acho que cinema autoral pode sim ser comercial e acessível, e pode ter a nossa cara”, declarou Karim. Em seguida, o diretor comentou sobre a mudança inicial que fez o filme parar no litoral. “O filme foi escrito para se passar no sertão, só que como eu fiquei muito tempo sem vir no Ceará por conta do governo fascista, por conta do golpe, e por conta que os projetos que eu tinha aqui foram todos cancelados eu pensei: ‘queria voltar para esse projeto, mas queria passar um tempo vendo o mar’, e como fazia muitos anos que eu não vinha, a gente mudou o roteiro para o litoral.”


Karim falou ainda que foi feita uma pesquisa por todo o litoral cearense para saber onde havia motéis em cidades litorâneas. Ele afirmou que fizeram um levantamento com mais de 80 motéis entre Paracuru e o estado do Rio Grande do Norte. Foi achado então um motel em Beberibe, o qual tinha o tamanho ideal para recuo de câmera. Além disso, o diretor afirma que as falésias nas praias de Morro Branco e Praia das Fontes o interessaram bastante, visto que o filme fala de personagens que estão sempre à margem de um precipício metaforicamente e literalmente, representando uma conjunção que foi muito proveitosa para a obra.


Ele falou ainda sobre como passou a se importar mais com a narrativa em seus últimos trabalhos. “Eu acho que esse é o primeiro filme que eu faço que narrativamente é muito claro. Eu sempre tive uma relação de amor e ódio com contar histórias, com narrativa e tal. Na verdade, acho que o A Vida Invisível (2019) já tinha um pouco isso, ele tinha uma clareza, é muito translúcido com relação à trama. E Motel Destino tem uma trama muito clara e legível, e eu busquei isso por uma razão muito simples, eu queria que meus filmes se comunicassem melhor com o público e alcançassem mais pessoas do que antes”, afirmou.

Foto: Divulgação/ Sarah Meyssonnier


Em seguida, Karim falou sobre suas três principais inspirações e referências para a construção de Motel Destino. Ele destacou que a primeira foi o cinema policial americano da década de 1940, o qual “é um cinema que se passa depois da Segunda Guerra Mundial, que fala de personagens com a moral duvidosa, fraturados, que eu acho que é um pouco o momento que a gente se encontra, principalmente em 2023, depois do que a gente viveu nos últimos quatro anos”.


A outra grande referência foi o gênero da pornochanchada, junto com o cinema erótico americano da década de 80, como os filmes de Brian de Palma. “Eu sentia falta de uma certa textura e densidade erótica no cinema contemporâneo, não existe mais gente fazendo isso, então comecei a lembrar dessa década, um pouco do cinema japonês também, os filmes do Oshima, por exemplo, eles tinham ousadia, beleza e relevância nas cenas de erotismo que para sempre foram muito marcantes”, continuou.


Karim também destacou o cinema surrealista de diretores como David Lynch, em especial seu filme Lost Highway (1997), por causa da sua narrativa fragmentada. “Era importante que a gente entendesse que havia essa liberdade para adentrar outros terrenos com tons diferentes que não fosse o naturalismo. Parece que o Brasil e o sul global estão condenados ao naturalismo e acho que nós cineastas temos tentado mexer nisso nos últimos anos. Então para mim era muito importante se apartar de um naturalismo literal”, afirmou.


Por fim, Karim falou sobre a ideia de abordar um motel como cenário principal de seu filme. “Acho que essa ideia vem de vários lugares, de tentar fazer um cinema mais clássico. Esse ícone do motel ou do hotel como um espaço do crime do perigo, de tesão e tal. Acho que essa proposta começa antes até do Psicose (1960), mas ele é de onde vem a tradição”, destacou.  O diretor concluiu afirmando que o motel “é um espaço que para mim é muito carregado dramaticamente, cheio de possibilidade dramática, cheio de uma tensão dramática, é um espaço de foder, e ao mesmo tempo é um lugar onde podem ocorrer vários crimes e ninguém vai ficar sabendo por causa da discrição do local. Então sempre envolve o proibido, o crime, o tesão, e eu acho que em última instância é um teatro de fantasia, ele mexe com o imaginário. E eu achei curioso que a gente nunca tinha feito um filme sobre motel, um personagem que é tão nosso.”


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