André Ristum e Fernanda Marques conversaram com exclusividade com o Oxente, Pipoca?
Foto: Divulgação
Lançado nesta quinta-feira, 11, em diversos cinemas de todo o país, o filme Ninguém Sai Vivo Daqui traz para as telas uma história ficcional baseada nos fatos reais que aconteceram no Hospital Colônia em Barbacena. No longa, que se passa na década de 70, conhecemos Elisa (Fernanda Marques), uma jovem enviada para o Colônia após seu pai descobrir uma gravidez antes do casamento. Ninguém Sai Vivo Daqui é uma versão condensada e com algumas cenas inéditas da série Colônia, exibida pela TV Brasil em 2021.
Em entrevista exclusiva ao Oxente, Pipoca? , o diretor André Ristum e a protagonista Fernanda Marques conversaram sobre as peculiaridades de adaptar uma obra baseada em fatos reais, inspirada levemente no livro “Holocausto Brasileiro” da Daniela Arbex. “Eu sempre fui um diretor muito focado em trabalhos ficcionais, e, quando eu tive contato com essa história, já havia um documentário importantíssimo, o “Em Nome da Razão” feito pelo Helvécio Ratton e um documentário produzido pela própria Daniela, o caminho ficcional não havia sido explorado ainda. E quando você lê o livro você já sente ali, pelo jeito dela escrever, essa narrativa mais cinematográfica. São tantas histórias, tanta potência ali que eu inicialmente já pensei na produção tanto da série, quanto do filme”, explica André.
A ideia da adaptação ficcional nasceu através dos personagens contados por Daniele em seu livro, mas também se baseiam em pesquisas e relatos encontrados pelo diretor e a ideia era retratá-los tanto para o público da série, quanto para o público do cinema de forma similar. De acordo com André, a produção foi gravada com especificidades narrativas para ser adaptada para os cinemas, com gravações de momentos específicos e um roteiro também exclusivo para a sua versão em filme.
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“Tiveram coisas da história da Elisa que nós precisamos suprimir no processo de edição, mas, são histórias bem amplas e mais aprofundadas dos outros personagens, afinal, no filme temos cerca 1h25 minutos de tela e na série, juntando todos os episódios temos mais ou menos umas três horas e meia. Conceitualmente, inclusive, a série e o filme possuem conceitos sonoros diferentes e uma finalização diferente. É super possível acompanhar e assistir as duas obras, lá temos histórias maravilhosas que não entraram no resultado final do filme, todas essas histórias merecem ser conhecidas”, reflete.
Ao decorrer da sua história Ninguém Sai Vivo Daqui trata de temáticas bastante violentas e pesadas, refletindo todo um passado de histórico de violência contra pessoas que tinham algum tipo de doença mental. Para Fernanda Marques, o projeto a colocou, primeiramente, em um lugar de empatia com as pessoas e as situações vividas no Hospital Colônia. “Eu não tinha conhecimento sobre essa história, descobri sobre tudo que aconteceu em Barbacena quando fui fazer o teste. Fiquei muito horrorizada e impactada, inclusive chorei com a cena que eu fiz o teste. Já o processo de preparação foi fundamental para imergir na história, tivemos duas semanas, uma particular com o preparador de elenco e uma segunda semana com o elenco inteiro, onde fizemos várias dinâmicas juntos”, relata Fernanda.
A atriz completa que o momento do set de gravação foi de suma importância para uma maior imersão na personagem. “Gravamos em um convento antigo, então era uma arquitetura que nos ajudava a acessar vários lugares da nossa mente para o momento das gravações e nós também gravamos no inverno. Essa junção do espaço, do tempo junto da nossa união como elenco, virando uma grande trupe, fez com que tudo ocorresse de forma muito natural e verdadeira”.
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Com Andreia Horta, Augusto Madeira, Naruna Costa, Samuel de Assis, Rejane Faria e grande elenco, o diretor de Ninguém Sai Vivo Daqui, buscou encontrar atores que se encaixavam com os personagens e que transmitissem emoções genuínas em tela. “A personagem da Rejane, por exemplo, apesar de todo o peso que carrega por tudo que sofreu, traz uma leveza para a história. Ela tem esse contraponto que é super importante para o processo de criação da personagem. Foi lindíssimo como a gente encontrou e de como esse papel, de fato, chegou na mão da Rejane. Ela veio de Belo Horizonte de ônibus, fez o teste presencial conosco e, durante as gravações, ela descobriu que a avó havia sido internada no Colônia. Parecia algo cármico, de tão verdadeiro que foi a sua entrega à personagem”, explica André.
Exibido em alguns festivais ao redor do mundo antes da sua estreia oficial no Brasil, André Ristum relata que a recepção do filme foi extremamente positiva por onde ele passou, trazendo luz a uma temática poucas vezes falada no audiovisual. “O público se conecta independente da sua nacionalidade. Mesmo contando uma história que aconteceu no Brasil, trazemos um tema que fala sobre as questões humanas, questões de injustiça, de saúde mental. Vemos a importância de falar sobre isso quando lembramos que no governo anterior a este chegou a ser discutido a reabertura de instituições como eram o Colônia. Então, é a nossa função como realizadores, escritores, jornalistas, produtores de teatro, enfim, falar e contar essas histórias, para criar pontes de conexão com o público e evitar que exista um retrocesso”.
Para André Ristum, o cinema nacional é o que representa a conexão dessas histórias esquecidas com o povo. “Um país sem cultura é um país sem alma e nossas histórias são a alma do nosso povo. Sabemos que o mercado é dominado por uma indústria hegemônica no mundo inteiro e que em alguns países ele domina mais e em outros menos, depende muito da época. O Brasil já passou por momentos melhores, onde a cota de tela nos ajudou bastante a conquistar uma fatia importante do mercado, chegamos a ter mais de 20% de ocupação de salas e da venda de ingressos com o cinema nacional, mas, a coisa decaiu muito após o último governo. Mas temos sim uma alta demanda por produto nacional e isso se deve a construir um desejo, um gosto, de ter contato com as nossas histórias. Então, chegar aos cinemas com um filme como esse é muito importante. Nós precisamos valorizar as nossas histórias”, completa.
“Precisamos valorizar nossa cultura e valorizar as produções nacionais. Infelizmente, aparecem cada vez menos oportunidades e menos espaço. Por isso, acho importante essa valorização das nossas histórias, especialmente as que trazem histórias como a que mostramos no filme, para que essas atrocidades nunca mais se repitam”, conclui a atriz Fernanda Marques.
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