top of page
Background.png
capa-cabeçalho-site.png
Foto do escritorÁvila Oliveira

Entrevista | Pedro Diógenes fala sobre 'Centro Ilusão'

Novo filme cearense foi premiado em sua estreia no Festival do Rio 2024 e venceu 4 categorias no VII Cine Jardim

Foto: Divulgação/ Embaúba Filmes


Em entrevista exclusiva ao “Oxente, Pipoca?” o cineasta cearense Pedro Diógenes (Inferninho) falou sobre seu novo longa-metragem Centro Ilusão que teve sua estreia no Festival do Rio 2024, onde venceu o prêmio de Melhor Longa-Metragem da mostra Premiere Brasil: Novos Rumos.


No filme, dois músicos de gerações diferentes se conhecem em uma audição para um concorrido laboratório de música da cidade de Fortaleza. Tuca (Fernando Catatau) tem 50 anos e se sente frustrado com sua carreira. Kaio (Bruno Kunk), 18 anos, é aspirante a artista que sonha em fazer sucesso com suas próprias composições. Confira a nossa crítica clicando aqui.


Ávila: Queria começar parabenizando tanto pelo filme quanto pelo prêmio no Festival do Rio. Como falei no meu texto acho que o filme é sensível, muito bem construído, bem musicado, o som está incrível, o elenco está funcionando muito bem, não só os protagonistas, como os coadjuvantes, acho que o Demick e Adna brilharam muito. E queria saber qual a sua relação com a música. Desde Estrada Para Ythaca (2010) até aqui a gente percebe que você sempre usa músicas em seus longas como artifícios de narrativa. Músicas verbalizadas mesmo, que servem para contar a história. E queria saber se você compõe, se você canta, ou se toca algum instrumento. Como você se relaciona com a música?


Pedro: Massa demais, primeiro agradecer. Para mim é um prazer estar conversando sobre cinema e sobre esse filme, e com vocês do Oxente Pipoca que tem se tornado parceiros dos nossos filmes. E minha relação com a música é uma relação de paixão. Eu não sei tocar nada. Não tenho ritmo nenhum e não acho que tenho a menor capacidade de compor nada (risos). Mas sou um grande apaixonado e a música faz parte da minha vida, tanto nos momentos bons quanto nos momentos ruins. Quando eu estou feliz, eu quero escutar música e quando eu estou triste também quero escutar música. E sou um grande apaixonado pela música cearense e pela música cearense contemporânea. E aí eu acabo conhecendo alguns desses artistas que eu admiro e acompanho. E como você falou a música sempre esteve nas narrativas de vários dos meus filmes, Estrada para Ythaca, Os Monstros, Inferninho, A Filha do Palhaço... Em Centro Ilusão eu quis colocar a música no centro da narrativa. Os personagens usam as músicas como falas e elas compõem momentos mais sensíveis então aqui ela está em primeiríssimo plano.


E aí trazer também junto com isso esses artistas, esses compositores, essas compositoras que tanto me marcam e que eu tanto admiro, então é um filme que acaba juntando uma galera que eu sou muito fã da música aqui de Fortaleza, a começar pelo (Fernando) Catatau que é um cara que eu acompanho há muito tempo, todo trabalho dele foi muito importante para mim como artista. E não só as músicas dele, o talento dele com a banda (Cidadão Instigado), e a carreira dele solo, mas também a postura que ele sempre teve como artista, são coisas que eu me espelho. Poder trazê-lo para o filme, essa foi a primeira vez que ele fez cinema, e poder ter esse cara que eu era fã e fazer ele virar meu parceiro criativo foi uma alegria imensa, mas também uma grande responsabilidade, e com isso o trabalho de toda a equipe foi essencial. Então foi massa, todo mundo cuidou com muito carinho dessa passagem do Catatau para o cinema.

Foto: Divulgação/ Embaúba Filmes


Ávila: Eu confesso que não conhecia nenhuma das músicas que tocaram no filme. Então eu queria saber quantas delas foram feitas especialmente para o filme e quantas já existiam, porque se eu não me engano eu vi que o Mateus Fazeno Rock postou no Instagram que tinha escrito uma canção para o longa, e depois descobri que outra das que tocaram já existia.


Pedro: A maioria das músicas do filme são músicas que já existiam e que eu ouvia, que eu já conhecia o repertório do artista ou da artista. Então as músicas que tocam no meio do filme são essas que eu já conhecia. Mas tanto a primeira música, a que o Tuca abre cantando, o Fernando Catatau fez para o filme durante o processo de construção dos personagens; e a última que se chama “Centro Ilusão” e dá título ao filme, foi composta pelo Vitor (Cozilos) e pelo Mateus Fazeno Rock. E assim como no filme eles dois são artistas de gerações diferentes e percursos diferentes, então foi interessante ver eles trabalhando juntos, dois artistas que eu já acompanhava, mas de vertentes diferentes poderem criar uma música para o filme. E no mais, como eu disse, são músicas de artistas cearenses contemporâneos.


Ávila: Eu queria saber quais as tuas referências atualmente, o que você ainda assiste que te inspira e queria saber também se você consome ou já consumiu filmes musicais que é um gênero que se tornou hoje bem menos popular do que já foi. Existe algum musical específico que tenha influenciado a construção de Centro Ilusão?


Pedro: Massa! Eu vejo muito filme, sou apaixonado por ver filmes, e por isso eu vejo de tudo, de todos os gêneros, e naturalmente vai ter coisa que eu vou amar e coisa que eu vou odiar. Mas eu já assisti a muitos musicais na minha vida e eu era apaixonado pelo gênero. E isso vai desde os musicais clássicos hollywoodianos, eu ficava espantado, como é que o pessoal conseguia realizar aquelas coisas gigantescas, grandiosas, aquelas megas coreografias e tal, mas aí quando eu fui fazer esse musical, eu quis ir pelo caminho. Eu pensei “será que dá para fazer um musical barato, com pouca grana, com pouca gente filmando em pouco tempo sem precisar da megaestrutura dos clássicos?” E aí eu comecei a ver muitos filmes brincam com essa narrativa do musical. E tiveram filmes que me marcaram muito nesse processo. Teve um filme irlandês chamado Once (2007), Apenas Uma Vez em português, que foi uma referência muito forte para Centro Ilusão, é um musical com músicas emocionantes, mas muito simples e filmado nas ruas da Irlanda. Teve também um filme uruguaio chamado Hiroshima - Um Musical Silencioso (2009), que veio com a proposta de fazer um musical mudo e eu vi e adorei. E outro que me influenciou bastante foi um filme independente americano chamado Downtown 81 (2000), que é o Basquiat passeando por Nova Iorque e encontrando nomes locais da cena musical da época e das artes plásticas. Então eu gosto dos musicais clássicos, mas para fazer esse musical mais barato, musical de rua, eu procurei ver outras produções que estavam brincando e testando com o gênero. E aí tem filmes também brasileiros musicais que eu amo. Gosto dos contemporâneos, os filmes do Caetano Gotardo, por exemplo, O Que Se Move (2013) é um longa que lida com o musical de uma forma bem particular.


Ávila: Queria que você falasse sobre como foi filmar no Centro de Fortaleza. Acho que a maior parte do filme acontece em espaços públicos e eu queria saber quanto tempo duraram as filmagens e quais surpresas vocês tiveram em roda em espaços tão movimentados?


Pedro: Posso estar um pouco errado na exatidão, mas acho que foram 15 dias de filmagens mesmo, sendo mais da metade no Centro da cidade. E a gente sempre teve essa proposta de filmar no Centro e interferir o mínimo possível nos ambientes, a gente queria deixar o Centro acontecer ao redor do filme, e na verdade a gente meio que pedia e torcia para que o Centro reagisse e acontecesse de forma natural. Nós contamos que ia ter imprevistos, mas algumas coisas não têm como se preparar, como sombra num espaço que a gente estava esperando sol, ou como decupar o som num ambiente que estava fazendo um barulho inesperado, obras em algum lugar, um samba que começa do nada... eram coisas que a gente tinha que pensar em como driblar, mas não queríamos interferir. E era maravilhoso ver como os funcionários das lojas e trabalhadores começaram a reagir depois de uns dias, porque por mais que fosse uma equipe pequena, acabava virando algo grande, tinha os atores, câmeras, os equipamentos de som, isopor com água e aí eles já sabiam do que se tratava.


Ávila: Para finalizar eu sempre gosto de perguntar para diretores sobre antes e depois das filmagens, expectativa e realidade. O que mudou de significativo desde a primeira versão do roteiro para o filme pronto? Existia algo no texto original que caiu durantes as filmagens e você achava que seria essencial, mas acabou não sendo? Ou entrou algum elemento que você não estava contando que teria e encaixou muito bem?


Pedro: Engraçado que nesse filme isso é algo complexo. Se você ler o roteiro original você percebe que ele é bem parecido com o filme pronto, claro que tem uma cena pequena que sempre vai cair, ou algumas falas, mas como resultado está bem parecido, mas isso não quer dizer que as coisas não mudaram ou se aprofundaram. Porque cada pessoa que entra no filme traz sua personalidade. Eu gosto disso, de ter uma equipe que esteja agindo artisticamente, criativamente e construindo juntos. O tanto de personalidade que o Fernando trouxe ao Tuca e o Bruno ao Caio dão cores diferentes ao texto. Os diálogos ganham o rosto e o jeito deles. Por mais que eu tenha escrito as falas eu não tenho a manha da linguagem de um jovem de periferia de Fortaleza, então eu deixei o Bruno a vontade para falar do jeito que o Caio falaria. A mesma coisa com o Fernando, fora que tem coisas que na hora da montagem a gente vê que não precisa ser dita, um gesto ou um olhar já resolvem. E isso serve com todos os detalhes da produção. Eu nunca pensei num Caio com cabelo raspado verde e num Tuca com um, sei lá, acaju, então por mais que as coisas estejam escritas no roteiro elas só vão ganhando forma com todo o trabalho da equipe. Por mais que eu tenha escrito “Tuca canta uma música da banda Tristeza Tropical no Centro” quando entra Vitinho (Victor de Melo) com a fotografia, Thaís (de Campos) com a arte, Lia (Dasmaceno) com figurino, Lii (Coelho) com cabelo tudo se transforma.


0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page