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Foto do escritorVinicius Oliveira

Crítica | Flora e Filho - Música em Família

Atualizado: 13 de out. de 2023

John Carney entrega mais uma obra reconfortante, embora com algumas falhas mais notáveis

Foto: divulgação


O cinema do irlandês John Carney parece ancorado em duas temáticas: o poder transformador e catalisador da música e as delícias e dores do amor. Do seu longa Once à sua série Modern Love, passando por Mesmo se Nada Der Certo e Sing Street, o diretor sempre consegue uma forma de entrelaçar esses temas em abordagens distintas, mas nunca perdendo de vista o calor e o conforto que suas obras são capazes de trazer.


Flora e Filho segue essa mesma cartilha, nos apresentando à sua protagonista-título (Eve Hewson) primeiro numa boate, até nos fazendo pensar sobre o quão jovem é a personagem, antes de nos revelar que ela tem um filho de 14 anos, Max (Óren Kinlan). As sequências iniciais já conseguem nos mostrar que, mentalmente falando, Flora não é tão mais velha que seu filho, algo acentuado pela rudeza das suas interações. É só quando, ao achar um violão e dá-lo a Max (que o recusa), ela decide aprender a tocar o instrumento, passando a ter aulas online com o estadunidense Jeff (Joseph Gordon-Levitt).


Carney emprega aqui uma abordagem mais crua e visceral em relação aos seus longas anteriores, o que chega a surpreender aqueles que esperavam uma abordagem mais leve. Ainda assim, ele não deixa de lado o interesse em explorar o melhor dos seus personagens, especialmente através da relação com a música. Flora é rude, briguenta e tão imatura quanto o filho, mas o filme nunca nos faz esquecer que ela o teve muito nova e nunca contou com o suporte necessário para criar, visto que o pai, Ian (Jack Reynor, repetindo a dobradinha com Carney de Sing Street e Modern Love), é um tremendo babaca.


Ajuda que Eve Hewson consiga nos cativar tão rápido, mesmo quando exibe os piores lados da personagem. Já tinha admiração pela atriz desde que a vi em Bad Sisters (e o fato dela ser filha de Bono Vox também ajuda um pouco), mas aqui ela tem a chance de exibir todo o seu talento ao criar uma personagem que à primeira vista parece difícil de torcer, especialmente pelo quanto falha com Max, mas em quem logo investimos e por quem desejamos que cresça na vida. Suas interações com Jeff, mesmo limitadas pela distância física, desfrutam da enorme química de Hewson e Gordon-Levitt, ainda que a construção do sentimento entre ambos pareça um pouco trôpega no início.

Foto: divulgação


Contudo, é nítida aqui uma tensão no filme, como se ele não soubesse se quer priorizar o relacionamento de Flora e Jeff ou as questões maternais dela com Max. Este não parece sair muito do estereótipo do adolescente chato, mesmo que a sua ligação com a música ajude a melhorar e muito sua ligação com a mãe. Porém, o filme vive nessa incerteza sobre qual desses relacionamentos quer melhor explorar (a despeito do título), e acaba parecendo ter duas metades não tão bem desenvolvidas. Essa incerteza ainda se estende à forma como Ian é usado dentro da trama, apesar de Reynor ser ótimo como sempre.


Essa tensão mal resolvida é expressa até na forma como a música é usada dentro do filme. Se por um lado temos ótimas sequências como aquela em que Flora é profundamente tocada por "Both Sides Now" de Joni Mitchell ou nas suas interações com Jeff, as músicas originais do filme carecem do frescor que as de outros filmes do diretor, como as de Sing Street ou “Falling Slowly”, pela qual Once ganhou o Oscar de Melhor Canção Original. Além disso, a maneira rasa com a qual o roteiro trata a tentativa de Max conquistar uma garota através de suas composições parece uma recauchutagem da trama principal de Sing Street, mas sem o mesmo ímpeto.


Assim, Flora e Filho continua a exibir várias das mesmas qualidades da filmografia e John Carney e dos temas que lhe são tão caros, mas infelizmente sem a mesma força de suas obras anteriores. Contudo, é graças ao carisma e talento de Eve Hewson que o filme se encontra, trazendo uma protagonista complicada, mas ainda assim inegavelmente amável e que, como tantos de nós, tem sua vida transformada pela música e pelo amor.


Nota: 3.5/5

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