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Foto do escritorÁvila Oliveira

Crítica | O Conde

Atualizado: 13 de out. de 2023

Sátira sobre Pinochet se fortalece, se diverte e também se perde em sua própria diegese

Foto: divulgação


Na comédia cheia de ironia, o ditador Augusto Pinochet é, na verdade, um vampiro com mais de 200 anos que se refugiou no Chile com a intenção de estabelecer seu próprio império. No entanto, o sanguinário líder parece estar cansado e sem propósito, e finalmente quer dar um fim a sua vida cheia de glórias e também de derrotas. Ele resolve reunir sua família uma última vez para revelar alguns segredos e apontar direcionamentos para o futuro de seus descendentes.


Pablo Larraín é, para mim, um dos diretores mais refinados – no sentido de elegância mesmo – da atualidade. Sua câmera firme, seus planos bem desenhados e seus enquadramentos bem compostos sempre constroem resultados com uma linguagem visual que imprime requinte e bom gosto. E em O Conde os usos do preto e branco, aplicado de maneira brilhante pelo primoroso Edward Lachman e aliado a uma direção de arte bem detalhada e cheia de texturas, dão um aspecto frio, rígido, tenso, mas não menos apurado.


Mas toda essa sofisticação fica apenas na plasticidade porque o roteiro é um escracho. No melhor e no pior sentido. A alegoria de um ditador sanguessuga não é tão difícil de entender, sejamos honestos, mas o roteiro faz questão de toda hora ficar lembrando que aquilo é uma metáfora com exemplos políticos generalistas e piadocas já conhecidas. É uma sátira, tudo isso está autorizado, mas o problema vem quando o texto tenta ser mais esperto do que realmente é e começa a ser redundante e óbvio. Sem spoilers, mas existe uma narradora que só aparece ao final e que é talvez uma das maiores e melhores piadas, mas sua participação é tão desnecessária comparada ao que fora construído no primeiro e no segundo ato que ela se torna deslocada. A esposa e os filhos de Pinochet são o que de fato funcionou sem exageros e sem firulas. A gananciosa esposa almeja se tornar vampira e os gananciosos filhos almejam a herança do pai que nunca morre; a sede deles por poder (e por sangue) a qualquer custo é o viés que valida todas as ironias do filme.

Foto: divulgação


Larraín é criativo no filmar vidas de personalidades, e esse se pode ver que é um dos projetos mais apaixonados e caprichosos do diretor, e não digo isso num sentido romântico, mas num sentido visceral mesmo. Ele alfineta da hipocrisia religiosa que anda de mãos dadas com os 7 pecados capitais até o imperialismo do “primeiro mundo” com um rancor (e uma vontade) de anos, que foi maturando e ganhando forma até culminar na representação vampiresca de uma das figuras mais abjetas da história da América Latina.


Deixando de lado as ideias um tanto reducionistas dos causos da política, ou mesmo não tendo qualquer conhecimento do contexto histórico daqueles personagens, ainda assim é um produto bem construído, bem desenvolvido e com todos os demais traços necessários para se tornar um clássico eventualmente.


Nota: 4/5

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