As dores e delícias da adolescência feminina sob a ótica judaica
Foto: divulgação
Nos primeiros minutos de Você Não Tá Convidada Pro Meu Bat Mitzvah!, a protagonista e narradora Stacy Friedman (Sunny Sandler) nos descreve ritos de passagens de diversas culturas e povos pelo mundo, incluindo uma, contada por seu pai, de um dos povos amazônicos onde é preciso suportar a dor das mordidas de uma espécie de formigas para se provar um adulto. Porém, segundo Stacy, essa cerimônia e a dor infligida não são nada comparadas a ser uma “garota adolescente”.
Esse minuto inicial do filme já apresenta eficazmente a proposta do filme de trazer esse olhar auto-referencial, mas sincero, sobre o que é crescer, especialmente quando se é mulher. O diferencial aqui é em trazer essa perspectiva a partir da cultura judaica e dos seus ritos de passagem próprios, como o bat mitzvah do título, bem como em contextualizar esse processo dentro das dinâmicas da geração Z. Além disso, o filme consegue ir além de ser mais uma comédia estrelada por Adam Sandler para dessa vez fazê-lo dividir os holofotes com sua família da vida real, em especial sua filha Sunny, que é a verdadeira estrela do longa.
A trama não poderia ser mais simples: às vésperas do seu bat mitzvah, a relação de Stacy com sua melhor amiga Lydia (Samantha Lorraine) é testada devido à paixão de ambas pelo galã da escola onde estudam, Andy (Dylan Hoffman). A partir daí é posta em primeiro plano a rivalidade feminina das duas, ainda que esta parta muito mais da protagonista do que de sua ex-amiga; além disso, também é abordado como tal rivalidade e a intensidade dos sentimentos da garota afetam seu próprio crescimento individual em meio à preparação para a cerimônia que a consagrará como uma mulher judia.
Apesar das ações inconsequentes de Stacy, tudo é trazido com muita leveza e um acertado timing cômico. Sunny Sandler é uma verdadeira revelação, e incorpora o grande mérito do filme — reconhecer e ironizar a superficialidade dos dramas vividos por essas personagens adolescentes, mas sem nunca invalidá-los ou desrespeitar essas personagens. Sua química da vida real com o pai é transposta sem grandes problemas para a tela, bem como com sua irmã Sadie (que faz o mesmo papel no filme).
Fonte: divulgação
Se o drama inicial com Lydia se desenrola talvez um pouco rápido demais (mesmo com uma ou outra sugestão sobre os sentimentos de Lydia por Andy), e nunca tenhamos o ponto de vista da ex-amiga sobre os eventos acontecidos, a direção de Sammi Cohen é um acerto na forma como explora a subjetividade de Stacy, o que, aliado à naturalidade da atuação de Sandler, permite que abracemos a personagem mesmo nos seus cada vez mais hilários e cruéis erros. Cohen consegue imprimir algumas marcas estilísticas (como os zooms exagerados) que elevam o filme para além do padrão mediano de diversas obras do gênero.
Você Não Tá Convidada Pro Meu Bat Mitzvah! não se propõe a reinventar a roda, mas é sincero consigo mesmo e suas personagens, e nisso reside uma de suas forças. É um filme que transplanta situações da comédia adolescente feminina que já vimos tantas outras vezes (em produções melhores, inclusive) para um contexto geracional contemporâneo e também para os aspectos culturais e religiosos do judaísmo. Assim, é um filme leve, descompromissado e, acima de tudo, divertido, se firmando como um dos melhores produtos da safra de Adam Sandler na Netflix.
Nota: 3.5/5
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